terça-feira, 30 de dezembro de 2008
É o bicho
Asheboro é famosa porque aqui fica o zôo estadual da Carolina do Norte. Vez ou outra aparece um turista para conhecer o Whilem, o urso polar que era vítima de maus-tratos em um circo e agora vive por aqui. Muito simpático o camarada, embora ontem estivesse sob efeito de medicamentos. É, o urso tava doidão. Mas o ácido que ele tomou, infelizmente, o deixou lesado e não elétrico. Segundo a Isa, na vez anterior em que visitou o zoológico o urso, o bichinho teve o nome estrageiro traduzido para Willy, estava brincando o tempo todo, nadando, etc etc. Mas nessa segunda ele ficou morgado o tempo todo. Diz a Isa, com uma maldade desnecessária e um coração impuro, que Whilem estava em clima de baiano.
Duro foi carregar a Marisa de um lado para o outro. Alguém precisa dizer a esta mocinha que quem usa o primeiro Valisère não pode ficar pedindo colo!!! O peso é razoável, apenas 28 quilos, mas o tamanho da mercadoria torna a missão difícil. O jeito é levá-la nas costas como uma macaquinha ou no pescoço, transformando o conjunto numa espécie de girafa de duas cabeças (veja as fotos à esquerda).
Ah, e tivemos a sorte de ver os leões marinhos e as focas sendo alimentados (confira no vídeo)
Beijos e saudades,
quinta-feira, 25 de dezembro de 2008
35 (ops, era segredo...)
Olá pessoas!
Confiram à esquerda as fotos da festa de aniversário da senhora Isabelita Solano Mendes Peixoto.
Ela espalha que fez 30, mas como eu coloquei as velas no bolo lá estão uma para cada ano.
Por falar em Isa, ela está em recesso de inverno. Quinze dias. Só volta a trabalhar em 5 de janeiro. Marisa idem. Como eu estou trabalhando, elas estão em casa comigo. Devem viajar por dois ou três dias no fim-de-semana, mas eu fico porque minha escala no mercado do Wal quase sempre inclui o sábado e o domingo.
Isinha fez 35, eu a conheço desde os 15. Quinze dela, 15 meus. Mas ela era absolutamente chata naquela época. A conheci por meio de um amigo em comum que insistia em gostar muito da Isa. Eu não a suportava. Desta época lembro de irmos à tarde de mobilete na casa da Isinha (eu de carona)e de um pote com batom Garoto em um jarro de vidro na cristaleira da sala. A mãe da Isa ainda mora na mesma casa.
Como disse, a garota era meio chatinha nestes tempos. Eu não tinha a menor paciência com ela e creio que a Isa sequer notava minha existência. Convivemos essa antipatia mútua por dois anos, quando ela deixou o Brasil para fazer o terceiro ano do segundo grau aqui na terra-da-galinha-que-põe-ovo-em-caixa. Morou bem mais para cima, na Dakota do Sul, quase Canadá. Mas como estava em intercâmbio pelo Rotary teve a chance de viajar o país inteiro de ônibus por 40 dias. O famoso roteiro coast to coast.
Da viagem, a Isa voltou outra pessoa. Literalmente. Como disse o namorado de antes da partida, foi uma, voltaram duas. Vinte quilos em 12 meses. Com esse comentário delicado, o namoro não tinha como continuar.
A história é longa, 20 anos, não dá para contar de uma vez só!
Beijos e saudades,
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
Fora das estatísticas (ou 6,5% - 1)
Durou pouco a minha vida de desempregado. Foram pouquíssimos dias, cerca de dez, entre a minha efetiva autorização para trabalhar e o início da labuta, em 25 de novembro.
O emprego não poderia ser melhor. Agora não preciso ser enterrado para que a Isa me visite, porque ainda vivo passo parte dos meus dias no Wal-Mart. Se eu acreditasse, diria que é coisa do destino. Como acho muito aborrecido imaginar que tudo que vai me acontecer já está escrito, vejo o emprego no mercado do Wal como uma vitória. Pequena, é verdade, e também temporária. Fui contratado por apenas três meses.
O fato é que me inscrevi para diversas oportunidades de emprego, mas apenas no Wal-Mart fiz tudo absolutamente sozinho. Foi a única coisa aqui na terra do bidê automático que resolvi sem ajuda da Isa, preenchi a ficha, respondi ao detalhado questionário em inglês, fui lá (é em outra cidade), participei do processo seletivo. E fui escolhido. Precisava disto. A sensação de constante dependência não é lá muito agradável. Mesmo sabendo que se for para depender de alguém eu só poderia escolher a Isinha, ter o ato da dependência como uma constante da equação embaralha a minha já frágil percepção do mundo. Eu estava me acostumando.
Essa é a primeira constatação. A segunda: que mulher do pé frio da porra!!!!!
Beijos e saudades,
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
cotas, contas, consciência, coitadinho...
Linhas gerais, o ‘Ives Gandra’ afirma que, como branco, sente-e discriminado por políticas em defesa de minorias como negros e índios. Dá como exemplo as cotas nos vestibulares. Diz que, se tiver a mesma nota de um negro no vestibular, pode perder a vaga apenas por ser branco, já que o concorrente seria beneficiado pelas cotas.
Pois bem, antes de ir adiante aviso que duvido que o Ives Gandra tenha escrito a mensagem. Parece-me muito mais um texto de um desses webpensadores que usam os nomes de gente como Jabor ou Veríssimo para divulgar suas idéias. Sem julgar o mérito das idéias, qualquer um tem o direito de defender a opinião que lhe convier, essas pessoas acreditam que sua mensagem vai ganhar força e repercussão se sairem do lápis de outro. E estão certas, ninguém vai encaminhar para sua lista de e-mail um texto de um reles Marcio Peixoto. O duro é cometer o crime de falsidade ideológica para fazer isso.
Bom, mas voltando ao coitadinho do branco. Sou branco. Espero que vocês ainda lembrem do meu rosto, do contrário a parte mais importante de mim está retratada à esquerda do texto. A Isa é mais branca que eu. A Florzinha parece leite. Tanto que quando preenchemos questionários socioculturais aqui é uma confusão, porque ficamos na dúvida entre optar por branco (raça) ou latino (origem). E garanto: se a Marisa tiver de perder sua vaga na UnB, UFBA ou – que seja poupada desta! – na UEFS, que seja para alguém beneficiado pela política de cotas.
O fato é que alguém que foi tratado de forma diferente a vida inteira não pode ser incluído no balaio de gato justo na hora de entrar na universidade ou no mercado de trabalho. É muito bonito um branco dizer que se sente discriminado pelas cotas, mas ele certamente não pensa em discriminação ao saber quantas famílias negras moram no Lago Sul ou quantas famílias brancas residem na Estrutural. E qual a proporção de brancos e negros nos presídios? E os números das vítimas de violência? E as médias salariais? E a ocupação de cargos de chefia?
É bem verdade que a discriminação afirmativa deveria ser social, e não racial, mas há tempo para fazer a mudança. E que a Marisa perca sim a sua vaga na universidade para alguém que teve uma vida muito mais dura que a dela. A Florizinha certamente vai passar as manhãs do ano seguinte dirigindo o carro próprio para o cursinho. À tarde vai estudar em uma biblioteca ou com os amigos no conforto de sua casa. À noite vai pegar um cineminha com o namorado para relaxar, talvez vá até ao motel. E o que acontece quando um jovem negro e pobre não passa no vestibular?
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
Rumo ao inverno
terça-feira, 18 de novembro de 2008
Ponteiros mais distantes
E estamos mais longe, ao menos no relógio. Quando cheguei aqui a diferença de horário entre Asheboro e Brasília, Salvador ou até Feira de Santana (três batidinhas na madeira) era de uma hora a menos. Dez da noite aí, nove da noite aqui.
Com o horário de verão, Brasília ficou duas horas na minha frente. Salvador e Feira ficaram na mesma, porque na Bahia dá uma canseira puxar o pininho do relógio mesmo que seja para ganhar uma hora de sono no primeiro dia.
Agora, estamos cá em cima no horário de inverno. Assim, estou três horas a menos de Brasília, duas horas a menos de Salvador e a 7 mil quilômetros de distância de Feira de Santana.
Beijos e saudades,
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
6,5% + 1
Estou coisificado, virei número: desde às 11h15 de hoje faço parte oficialmente das estatísticas do desemprego nos Estados Unidos. Finalmente recebi o número do Seguro Social. Agora, aleluia, nada mais me falta para trabalhar. So o emprego, claro...
Antes, mesmo que quisesse, ainda não dava para ser contratado. Só o cartão de permissão para trabalhar é insuficiente, porque em todo lugar que ia pediam o tal do Seguro Social. Pois está em mãos - empregadores, me achem!
Somos 6,5% de desempregados cá em cima. É o número de outubro divulgado pelo Departamento de Trabalho, o equivalente ao nosso Ministério homônimo. A taxa é a maior dos últimos 14 anos. Ótima época para um mal falante de inglês procurar emprego, não?
Pois então acendam velas, entoem mantras, recebam passes, façam promessas, baixem espíritos em meu nome. só não vale cortar o pescoço da galinha ou costurar a boca do sapo.
Beijos e saudades,
(imagem: www.georgetowncustomhomes.com)
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Búfalo avoa???
Búfalos não voam e eu devia ter lembrado disto no sábado passado. Estávamos ainda no alto das montanhas, em Wilkesboro, um frio da porra, e fomos jantar no Applebees. É um restaurante de rede, aliás, tudo aqui é rede, ninguém consegue manter aberta uma lojinha de esquina. Os gigantes te engolem em dois segundos. Bom, ao menos não é fast food.
A Isa insistiu para que eu escolhesse o jantar. Detesto escolher prato, acho cardápio um saco. Ou melhor, o cardápio tem duas funções sociais importantíssimas: ocupar seu tempo naquele chatíssimo almoço de negócios ou te proteger de reconhecimentos indesejáveis.
Já não gosto de escolher a comida em situações normais, sem grana para pagar a conta a missão é ainda mais cruel. Fiz a opção óbvia, o mais em conta financeiramente. Tinha lá um combinado de 20 dólares com dois pratos principais, um de camarão e outro de pasta com frango. E ainda podia escolher uma das duas entradas disponíveis. Foi aí que a coisa pegou.
A entrada podia ser um lance com batatas ou algo que eu desconhecia: buffalo wings. Claro, fui para a inovação! Nunca tinha comido carne de búfalo na vida. Até achei estranho e ainda comentei: vamos comer camarão, frango e carne vermelha na mesma refeição... A Isa deu um risinho de canto, daqueles que eu dou antes de pregar alguma peça nela. Qualquer dia conto da vez em que 'roubaram' nossa cama de casal e a Isa teve de dormir no chão do corredor em nosso primeiro ano de casados.
De volta ao Applebees. Nossa garçonete-gorjeta-de-20% trouxe as tais buffalo wings. Prato bonito, combinação de vermelho com verde. A Isa, de cara, declinou: não consigo comer o prato principal se aceitar a entrada, fique à vontade meu amoooor...
Que ixxxcrota, pimenta pura!!! Claro, também não era búfalo, e sim frango. Buffalo, explicou-me gentilmente a Isa depois dos dois litros de coca-cola (era refil, então pude beber à vontade), é um codinome para pratos apimentados. Buffalo wings: asas de frango desossadas servidas com muita, muita pimenta. Daquelas de fazer baiano suar e mexicano pedir arrego.
Continuo sem ter provado carne de búfalo. Seu-Zé-lá-da-retaguarda sofreu um bocado durante a madrugada, mas comi as tais asas por inteiro e minha honra foi mantida.
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
Cemitério
E foi em Boone que me encontrei: agora sim posso morrer. O livro fica para outra encarnação. Me enterrem no WalMart e está tudo ótimo, a Isa continuará comigo além da vida.
Subimos as montanhas no fim-de-semana passado, fomos a Wilkesboro, Boone e Blowing Rock. Lembra do Daniel Boone? Aquele mesmo do seriado, que tinha esposa, um filho, uma filha e um índio amigo? Pois esqueça. Ele não é de Boone. Até passou por aqui no século 18, mas fixou residência mais para cima.
Para fugir de um texto chatíssimo do mestrado (aliás, o mestrado é a causa das postagens menos frequentes) me dei ao trabalho de pôr legenda em algumas fotos na apresentação da esquerda. Perca alguns segundos para ver as imagens.
As árvores de Natal daqui nascem na terra mesmo e, dizem, as que ornamentam a Casa Branca saem destas que estão retratadas.
O mais impressionamente: uma loja de artesanato brasileiro em plena Blowing Rock, meio do nada! Um missionário daqui compra colares, vasos, redes e badulaques no Maranhão, São Paulo e Brasília e vende aqui. Investe parte do valor arrecadado na melhoria das condições de vida dos artesãos. Um colar de açai sai por US$ 36. Figura interessantíssima esse tal Steve. Está há quase oito meses sem mercadoria porque foi prejudicado por greves na Receita Federal e nos Correios do Brasil. É a globalização.
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
Votação
Percorremos três zonas eleitorais e em nenhuma as prometidas filas se materializaram. É uma surpresa, já que a votação é feita em papel. O sistema eleitoral daqui é uma comédia, você pode fazer o registrar no dia da votação. É como tirar o título de eleitor no domingo do pleito. E a votação começa mais de um mês antes da eleição e você pode votar pelo correio.
Outro dia ouvi uma entrevista da, digamos, presidente do TRE de Ohio. A coitada levou pedrada de todos os lados, do apresentador do programa de rádio e dos ouvintes. De forma muito envergonhada, ele teve de admitir que alguém pode se registrar e votar em mais de um estado, caso este estado não faça parte de um sistema interligado. O problema é que o sistema interligado inclui pouquíssimos estados. Ohio que o parta!
(fotos à esquerda)
domingo, 2 de novembro de 2008
Halloween: fila de espera no hospital
Este é o país das lentas urbanas. O homem do saco aqui tem uma sacola maior que a do Papai Noel e pode levar diversas crianças ao mesmo tempo. A mulher de branco agora não apenas leva o rebento como lhe retira o rim para vender no mercado internacional de transplantes. O bom é que ao menos o moleque fica vivo, dentro de uma banheira cheia de gelo em um hotel de quinta categoria à beira de uma estrada qualquer. E sempre estrada secundária. Garantia de vida só na interestadual, nunca saia da interestadual!
Recebemos alguns amigos em casa para o Dia das Bruxas. Uma pequena Babilônia, gente da Argentina, Chile, Colômbia, Estados Unidos. O Chavez não mandou representante. O preço da gasolina está baixo demais para venezuelano pensar em gerar renda na terra do cachorro quente. A Isa não disfarçou a verruga do nariz, foi ao Wal Mart de vassoura e preparou uma bela sopa no caldeirão. Marisa usou sua roupa de líder de torcida e nos deu o prazer de passar a noite fora de casa. E a seguinte também, só reapareceu no domingo.
Agora temos de comer os quase 300 doces amealhados na festança. Antes, porém, eles têm de passar por um raio X no hospital mais próximo.
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
Coincidência
Então é isso. Agora já tenho a permissão para trabalhar, só falta o emprego. E eu já estava tão acostumado a cuidar da casa e estudar... Antes do emprego preciso do número do seguro social, é como o nosso CPF, sem ele você não vale muito. Eu só podia solicitar o meu depois de receber o cartão de trabalho. Já fiz a solicitação e o seguro social deve chegar pelo correio até terça-feira. Tem um emprego aí, tio?!?!?!?!?
A diretora da biblioteca me deu hoje uma excelente carta de recomendação, tomara que seja útil. Retornei à Energeizer, as vagas foram realmente preenchidas, mas estou aprovado e quando houver novas oportunidades posso ser chamado. Claro, espero conseguir outro emprego antes disso. Minha meta é trabalhar só um turno, assim terei tempo para estudar e ainda posso ajudar na biblioteca uma ou duas vezes por semana, além dos afazeres domésticos, óbvio!
Beijos, saudades,
terça-feira, 28 de outubro de 2008
Sabotagem
sábado, 25 de outubro de 2008
Jerimum Elétrico
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
Patins!
Fomos ontem patinar novamente. Diversão eficaz e barata. você paga um dólar pela entrada na pista e mais 1,50 pelo aluguel do patins. O preço é promocional nas quartas. Nos outros dias o aluguel sai pelo mesmo valor, mas a entrada é 4 pilas. Como já começou a esfriar é uma ótima opção de atividade física, porque já parei de correr. Correr na rua com sete graus de temperatura é um pouco demais para mim. Quando tiver emprego entre em uma academia, assim posso usar a esteira.
Estou fugindo do assunto. Patins. O melhor foi o tombão da Marisa, que consegui filmar. A Isa disse que sou sádico, mas você também pode rir!
Por falar em Marisa, também ontem foi dia de fotos na escola. Essas fotos de perfil lateral - muito estranhas para nós, que são publicadas no Livro do Ano. Marisa acordou sozinha às 05h13 para tomar banho e lavar o cabelo. Levantei 05h55 e ela estava à mesa, já tomando café da manhã. Engraçado, né? Nos dias normais dá uma trabalhão tirar esta peste da cama...
Beijos, saudades.
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
Milionariamente só
Acabo de descobrir que fechando os olhos a madruga surge, o que é sempre perigoso quando a folha em branco olha para você. Cai na besteira de assistir sozinho ao DVD ao vivo do Capital Inicial. Queria tentar me achar em meio à multidão, já que a gravação foi na Esplanada dos Ministérios no aniversário de Brasília.
Bom, é 21 de abril. Feriado para uns. Dia de branco para outros. Sou um dos outros. Mas nem é tão branco assim. Antes das 11 horas já estava liberado.
Não está fazendo sentido, né?
Recomeçando.
Bom, é 21 de abril e o GDF preparou uma mega-hiper-super-power festa de 18 horas de duração na Esplanada dos Ministérios para comemorar os 48 anos de Brasília. Previsão de um milhão de pessoas. Segundo a PM, um milhão e duzentas mil passaram por lá. Há quem diga que o feriado do dia 21 é em homenagem a Tiradentes. Como hoje há também aqueles para os quais Joaquim sequer existiu (você realmente crê que o Armstrong pisou o solo lunar?), sempre associei o 21 de abril ao aniversário da Capital. É como o Dia das Crianças. Que papo é essa que é dia da padroeira?!?!?!?!?! Eu quero é meu presente!
Pois sim. Por causa da festa, trabalhei das 07h30 às proximidades das 11h00. Como esperava ficar durante todo o dia por conta da festança, recebi de muito bom grado a notícia de que podia pôr a viola no saco e curtir o resto do feriado em plena segunda-feira. Fui deixado em casa e resolvi pegar a bicicleta para dar uma volta pelo outro lado da Esplanada, a 'Brasília de cá' como diria Walter Lima. Durante as poucas horas de trabalho, transitei pela 'Brasília de lá', aquela dos palanques e palácios. Acabei contagiado pela festa, muitas famílias, gente que em geral não tem opções de lazer (teve metrô de graça) e resolvi voltar no início da noite para dois shows, um em comemoração aos 50 anos da Bossa Nova e outro do Capital Inicial. Aliás, a escolha dos espetáculos foi muito bem feita, tinha para todo mundo, de Rebeldes a Orquestra Sinfônica.
Da 'Brasília de lá' trouxe no pulso uma pulseirinha (pleonasmo ridículo, desculpe. O cara inventa a palavra para simplificar as coisas e eu desmancho tudo) que me dava acesso ilimitado aos shows. Neste ponto, você tem o direito de perguntar: Como assim ‘acesso’, se a festa era para a multidão? Então, vale registrar que as comemorações foram bem a cara de Brasília: por níveis, cada macaco no seu galho (lembrei agora de uma moça que trabalhou lá em casa, que nunca tinha ido ao Park Shopping ou ao cinema).
Para não ser chato, não a festa era estratificada, mas sim os shows. Havia grandes áreas VIPs diante dos palcos e alguém da 'Brasília de cá' jamais chegaria a menos de algumas dezenas de metros de quem cantava. Eu podia dizer, por questão pseudo-ideológica, que tinha resolvido ficar na área destinada aos não-VIPs, mas vou admitir que estava tudo tão cheio de gente que sequer consegui chegar na frente de palco para o Capital Inicial. Minha pulseirinha no pulso (!) não pôde ser mostrada a alguém e perdeu o efeito mágico de abre-te Sésamo.
Resolvi ir ao show do Capital porque os caras iam gravar um DVD e quem sabe eu aparecia na imagem? Tentar fazer parecer à Isa e à Marisa que os longos sete meses de solidão candanga não foram tão duros e até me diverti. Olha eu ali!
Só que de tanto pensar em me divertir, ou fazer assim parecer, senti uma profunda solidão, daquelas que exigem uma pessoa conhecida ao lado nem que seja apenas como figurante. Olhei para os lados e vi num relance dezenas, centenas de rostos desconhecidos. É sempre muito comum encontrar pessoas conhecidas em grandes eventos, mas olhava em volta e não reconhecia ninguém. Intrigado, resolvi andar pela multidão em busca do meu 'alguém'. Não me parecia possível deixar de reconhecer unzinho sequer em meio a milhares. Pois não é que, no bolo de um milhão e duzentas mil pessoas, estava completamente só? Nada, ninguém. Ninguém mesmo. Nem um daqueles 'acho que já vi esse cara' ou 'conheço essa moça de algum lugar'. Nada, absolutamente nada. Um milhão e duzentos mil estranhos, disformes, cantando "se você não entende, não vê / se não vê, não me entende".
E eu via, mas não entendia.
Daí veio aquela ânsia. Ligo ou não ligo? Quando sua existência é transferida para outro país a conta do celular passa a ter um peso inacreditável no orçamento doméstico! Ligar ou não ligar para a Isa? Ligo ou não ligo? O número está programado no celular, é só apertar um botãozinho de nada...
Claro, liguei.
Ou melhor, tomei a decisão de ligar. Tateio o local onde fica o celular e... nada. Estava com uma calça com onze bolsos, muito útil para dias de multidão - um assessor de meia pataca sempre tem tudo à mão, procuro em um, outro, mais um, aquele super escondido. Cadê a porra do celular? Nada. Fui roubado!
De fato, ninguém jamais está só. Tem sempre alguém de olho em você...
terça-feira, 21 de outubro de 2008
Guerra de testosterona
"Como ex dona de gato, tenho que avisar. O bichano está delimitando território, você ainda não entendeu que a cadeira é dele e não sua. Para de insistir, vá gaste um pouco mais de sua parca finança e compre outra".
É o conselho que recebo em um comentário na mensagem de ontem. Só não vai dar para segui-lo. Primeiro, nem que eu quisesse poderia comprar outra cadeira, já que ela foi achada em uma loja de usados. Gostou? Compre na hora, no dia seguinte ela pode não estar mais lá. E outra, gastar por causa do gato já é demais!
Eu e ele vamos ter de nos acertar. A poltrona, como disse, pode até ficar com ele. Na imagem acima o gato vigia minha leitura. Se levanto, ele pula para o assento. Enquanto não saio, o gato fica a dar petelecos com a pata em minha orelha. É uma guerra de nervos, mas quase sempre venço. Ele pula daí e vai para outro lugar.
Na sequência, um montinho sobre a cama, o que será??? Pois lá está o preguiçoso dormindo. Quando eu demoro a arrumar a cama,
ele fica me rondando e miando aquele miado de bebê-deixado-com-a-avó-e-uma-mamadeira. Não dá para suportar. Vou ao quarto, arrumo a cama. Pronto, agora é paz. Ele vai dormir entre o edredon e o lençol por longas horas.
De lá ele só sai se estiver com fome ou se eu tiver esquecido qualquer sapado fora do armário. O gato tem prazer em destruir meus cadarços.
Não vou repetir os hábitos sanitários do felino sob minha mesa no escritório, vai parecer perseguição. Sou um amante dos animais. Já tentei uma aproximação maior. Peguei o bichano no colo, fiquei acariciando, ele foi dando corda, fui passando a mão sobre o pêlo (esse acento diferencial ainda está em uso?), o gato foi ficando mole, abriu a boca, começou a fazer um barulhinhos, o barulho foi aumentando, uns gemidos meio estranhos... Joguei o tarado para longe de mim.
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
Festival de Outono
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
Apenas para dizer um oi rápido. Ainda estamos vivos cá em cima. Esta semana estou um pouco apertado com as leituras do mestrado e ainda fui atingindo em cheio por...
Não, não foi o tornado, e sim uma gripe com garganta inflamada. Tudo sob controle, mas dá preguiça até de ligar o computador.
Bom, para não passar em branco, semana passada fomos patinar. Muito divertido, conto os detalhes depois. Espero o o vídeo funcione, sou mestre em apanhar dessas coisas muito 'muuudernas'!!!!
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
Cadeia alimentar
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
Quem é o cantor?
terça-feira, 7 de outubro de 2008
Quase-emprego
Como disse, minha memória me trai de vez em sempre. A Isa puxa minha orelha: quando saímos de Paracatu (lua-de-mel na oficina, lembra?) seguimos para as cidades históricas de Minas e uma nova mangueira do Chevette estourou em João Pinheiro, não em Presidente Olegário. PO fica mais ao sul do estado e nem é caminho para Ouro Preto.
A Isa é como meu drive externo, então estava arquivada nela, e não na minha CPU, essa informação, acrescida do fato de que em JP até visitamos uns parentes dela. Por conta própria acrescento que Presidente Olegário é a cidade do pai e dos tios da Isa. Aliás, já até estive lá em uma viagem de fim-de-semana com seu Isaías e a Florzinha para o aniversário de 70 anos do tio Ângelo. A Isa não foi porque trabalhava no sábado. (Tá tudo certinho, Isinha?!?!?!)
Bom, hoje consegui meu quase-primeiro-emprego-na-terra-do-tio-sam. O pessoal da Energizer me ligou, achei até que tinha sido desqualificado, porque fiz o processo seletivo há umas duas semanas ou mais. Bom, mas a mocinha me ligou, só que a tal da autorização de trabalho ainda está em processamento, ou seja, não foi desta vez que virei operário. Será que tem de usar macacão? Já me vejo com um macacão cinza com uma pilha impressa nas costas e uma flanela suja de graxa no bolso de trás. A mocinha disse que as vagas não são raras e solicitou que, quando a autorização chegar, eu entre em contato para saber de novas oportunidades.
Levei até um susto quando o telefone tocou e não era a Isa. Como ainda não tenho dívidas por aqui, cobrador não poderia ser. Meu medo é o Visa!
Beijos e saudades,
quinta-feira, 2 de outubro de 2008
FS em NY
Beijos e saudades (exceto de Feira, claro),
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
O outro lado da cerca
Algumas semanas antes de vir para cá fui com um grupo de amigos a um show do Paralamas e Titãs em Brasília. Não lembro o nome do lugar, mas é um galpão sem qualquer acústica perto da Vila Planalto. Bom, antes de dizer o que realmente interessa, lembrei que naquele dia eu fui o tal 'amigo da vez'. Tinha uma blitz na L2 e fiz o retorno três vezes, mas os PMs foram incapazes de me parar. Tenho certeza que no dia que eu tomar meio Martini vou preso. Ser amigo da vez não é a marivilha que pensei, tive de pagar o ingresso - mais, antes fui até lá comprar as entradas de todo o grupo - e só me serviram água. Minto, o sanduíche depois no Sky's também foi por conta dos bêbados. Passei na Blitz antes e depois do Sky's, nada de bafômetro. Ao todo, foram SEIS tentativas frustadíssimas de ser parado. Queria muito ter sido aprovado no teste. Esses meus quatro amigos estariam no meu bolso para o resto da vida...
Ingresso. Era disso que eu queria falar. Estávamos no camarote, uma das maravilhas da vida pequeno-burguesa que em geral passa a ser possível em algum ano próximo ao trigéssimo. Como só eu estava sóbrio, tive tempo de sobra para divagar. Uma cerca de 1,20 metro separava a área do camarote do 'resto' da platéia. Lembrei das tantas e tantas vezes em que estive do outro lado. "Então, é assim estar no camarote?!". Posso, como sempre, estar enganado, mas na minha época do outro lado o camarote era lateral. Quem pagava o ingresso simples conseguia chegar perto do palco. Agora, quem não tem tanto dinheiro (mesmo as entradas mais baratas são caras demais) fica a dezenas de metros do palco.
A novidade é que estou novamente do lado de lá. Aqui nos Estados Unidos fui empurrado de volta. Não dá para entrar em camarote sem carteira de trabalho. Muito menos vivendo do salário da esposa. E foi de novo como estudante que voltei a Nova Iorque. E, já adianto, foram três dias muitíssimo divertidos.
Conheci NY em 95, ano que eu e Isa casamos. Não, não foi lua-de-mel. Casamos em janeiro, viajamos em dezembro. Nossa lua-de-mel foi, ou melhor, ia ser, nas cidades históricas de Minas.
Vale a pena abrir o parêntese.
Casamos sem um puto no bolso, Isa estudava Economia na UDF e dava duzentas mil aulas de inglês por dia; eu fazia três estágios: manhã, tarde e madrugada. Faculdade à noite. Claro, não tínhamos carro. Mas temos eu e Isinha a sorte de compartilhar o gosto por coisas antigas, que venham com história (essa é a desculpa mais chique para termos o apartamento de Asheboro inteiro montado com móveis usados, digo, 'com história' - parêntese dentro do parêntese? Devia ter usado colchete).
Assim, decidimos passar a lua-de-mel nas cidades históricas de Minas. Ouro Preto, Mariana, etc, etc, etc. Sem roteiro definido, nada de hotéis agendados ou programas marcados. Aonde desse vontade de ficar, a gente achava algum lugar dentro do orçamento. Como é bom ter 20 anos!!! Bom, destino escolhido, faltava o meio de transporte. Conseguimos emprestado da irmã da Isa um Chevette 1989. Era 95, um carro de seis anos está em plenas condições de uso. Era o que imaginávamos...
Eu era tão duro que não tinha dinheiro nem para tirar a carteira de motorista, então, só a Isa dirigia. Passamos a primeira noite no Hotel Bonaparte e saímos no meio da manhã rumo a Minas. Lá pelas tantas começou a sair fumaça do motor do carro. Meio do nada antes de Paracatu. Só nos restou pedir carona. Parou uma família bem simpática de BH, tempos depois até os reencontramos na fila para o visto na Embaixada dos Estados Unidos. O Brasil, como todo norte-americano sabe, é uma ilha.
Retomo. Carona até Paracatu, conseguir um guinho em pleno domingo, voltar até o Chevette, trazê-lo até a porta da primeira oficina e morrer em R$ 80. Como disse, era domingo, oficina fechada. Fizemos uma estravagância: nos hospedamos no melhor hotel de Paracatu. Tinha até ar-condicionado. Manhã de segunda, esperamos a oficina abrir.
A oficina era do seu fulano, mas seu fulano estava quase cego e o filho do seu fulano fazia as coisas, sob ordens enfáticas do seu fulano. Diagnóstico: retífica. O termostato estava quebrado e o cabeço rachou. Não sabia o que isso significava, mas me pareceu grave. Tudo por causa de uma mangueirinha de nada que ressecou e jogou toda a água fora. Pensei que o carro era movido a gasolina, e não a água.
Seu fulano adorava jogar damas e nunca tinha perdido uma partida para qualquer um dos paracatuenses. Isa se oferece para jogar com ele. "Isinha, deixa o velho em paz, ele é o dono da oficina, trabalha muito, deve estar cansado". "Sente, minha filha". "Isinha, deixa o velho em paz". O diabo da mulher é teimosa. Pior, sabe jogar damas! Ganhou a porra do jogo. Seu fulano ficou puto da vida, colocou o tabuleiro debaixo do braço, as chapinhas de refrigente num copinho de alumínio e sumiu. Resultado do jogo: o conserto do carro levou três dias e custou R$ 800. OITOCENTOS reais em 1995, dava para ter comprado o Chevetti!!!!
Mas lua-de-mel é só festa. Catamos as moedas do troco e seguimos viagem. Ao chegar em Presidente Olegário, a cidade seguinte, outra mangueira do Chevetti estoura. Mas a boa notícia é que desta vez o termômetro avisou e paramos em tempo. Noite, dormir na cidade e esperar um loja abrir. Mangueira nova. Saímos de PO na manhã seguinte rumo a Brasília. Quanto mais longe, mais caro seria o guincho para nos levar de volta à capital!!!!
Fecha parêntese.
E tchau. Acabou o espaço, Nova Iorque fica para outro dia.
Beijos e saudades,
terça-feira, 30 de setembro de 2008
A química da borracha
As pausas para ler, além de impedir a LER (infame esta), foram muito educativas. Agora sei, por exemplo, que Pestalozzi é, ou foi, uma pessoa - e não uma sociedade secreta que rivaliza com a Maçonaria, como eu sempre pensei.
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
Lição número 1
O vôo SP-Miami foi complicado, um bebê duas fileiras à frente chorou boa parte do tempo. Se já era bastante difícil dormir na classe econômica, imagine com choro de criança... Esta é uma das coisas que cada um só aguenta a sua! Por falar em criança, a minha – que já está na segunda década de vida e mede quase uma fita métrica, achou por bem dormir o vôo inteiro sobre mim. Normal, como no caso do choro, quem pariu que embale.
Logo na alfândega uma pequena chateação. Temos, eu e a Florizinha, visto J2. É um visto que permite, por exemplo, trabalhar regularmente e decorre do J1, que é da Isa (a minha dependência aqui já começa no passaporte!!!). Difere do B2, aquele que usamos nas viagens de turismo. Achei que, por isso, deveríamos fazer o check-in na fila de ‘residentes’ e não na de ‘visitantes’. Pois estava errado e o camarada do guichê ficou bem putinho comigo. Disse que aqui não é o Brasil e que eu tenho de me acostumar com isso. Disse de novo, e mais uma vez. Me ofereci para ir à outra fila, mas o moçinho falou que agora ele ia me atender. Ao entregar os papéis, outro problema. A TAM, durante o vôo, deveria ter me dado três tipos de formulário para preencer, mas recebi apenas um. Como não sabia da necessidade dos outros dois, achei que estava tudo certo. Tive então de preencher nova papelada e voltar duas vezes ao mesmo cara, aquele do “aqui não é o Brasil”. Duvido muito que ele saiba aonde é o Brasil.
Aprovada a entrada no país – surpreendentemente não houve problemas com os cinco quilos de farinha que trouxe acondicionados em suspeitíssimos pacotes de papel pardo, fomos para o guichê da US Airwails. Tudo dentro da normalidade, nosso vôo para Charlotte, Carolina do Norte, seria às 08h50 e eram, quando dei bom dia ao atendente, 07h51. Pinnnn, reposta errada! A US mudou o vôo de horário, para 08h20, e o embarque já estava fechado.
Começou aqui uma novela que terminou com o embarque apenas às 19h24. Ou seja, chegamos 06h30 ao Aeroporto de Miami e de lá só saimos quase 13 horas depois. Não vou contar os capítulos entremeios, mas descrevo a cena: Marisa de mau humor (tadinha, completamente compreensível naquela situação) e eu conduzindo a ela e 12 bagagens de um lado a outro do aeroporto para tentar embarcar. Os aeroportos internacionais daqui são monstruosos, com diversas esteiras rolantes, pequenos trens e até metrô para circulação interna. Para fechar a cena, todo mundo meteu o pau na TAM, que me vendeu as passagens, e fui obrigado a concordar, porque as pessoinhas da TAM foram muito pouco prestativas. Bagagens: quatro malas, duas mochilas, duas bolsas, duas sacolas e dois bichos de pelúcia, uma ursa e uma preguiça. Aliás, a preguiça fez sucesso no aeroporto, todo mundo queria saber que animal era. Não sei como se diz bicho preguiça em inglês, quem souber favor avisar.
O melhor capítulo, porém, não foi o último. Era previsível que iríamos embarcar em algum momento. O bom mesmo foi que, numa das diversas idas e vindas aos guichês das companhias aéreas, o cidadão da US disse que estavam me procurando. Perguntei, feliz, se era para dizer que conseguiram um vôo para mim e minha filhota, mas ele explicou que era para devolver meu envelope com travelers cheques, que eu havia deixado sobre o balcão. Confesso que realmente fiquei surpreso, porque não tinha dado falta deles. Agradeci profundamente pelo cuidado de guardá-los e segui minha vidinha-de-morador-de-aeroporto-que-não-pregou-o-olho-a-noite-inteira. Só que, a 15 metros do guichê, fui abordado por um funcionário da US que de uma forma muito enfática, digamos assim, perguntou se eu não ia dar uma recompensa. Já puto da vida, questionei se era uma obrigação. Muito grosseiramente, ele disse que obrigação não, mas era o esperado quando alguém fazia algo bom por você. Na hora, lembrei da personagem de sete horas antes, na imigração: “você precisa saber que aqui não é o Brasil”.
Lição número 1: nos Estados Unidos tudo tem preço, até a honestidade.
domingo, 14 de setembro de 2008
Notícias
Desisti.
Estava ouvindo a Fórmula 1 pela CBN, mas é sofrimento demais!!!
Bom, hoje é meu trigéssimo dia aqui e ainda não recebi a autorização para trabalhar. Enquanto isso, vou sendo sustentado pela Isa, o que é uma posição muito conveniente. Na quarta-feira aconteceu aqui perto de caso uma Job Fair. Feira do Emprego. Fique na dúvida entre ir ou não, já que ainda não posso trabalhar legalmente. Na falta do que fazer, fui. Ótima decisão, porque ganhei minha primeira entrevista para emprego, na próxima terça-feira. Esse lance do emprego aqui é um sofrimento para mim. O fato é que nunca procurei trabalho na vida, sempre fui achado por eles!!! Então, a insegurança é grande...
Mas teve a tal da Job Fair. Fui para lá com uma imagem mental bem engraçada, achei que encontraria um bando de barraquinhas com os caras gritando `olha o emprego na loja tal', 'quem quer trabalhar para o fula?'ou 'beltrano paga mais e ainda garante seu plano de saúde'. Clara, nada disso. Cheguei lá e tive de preencher uma tremenda papela de 10, ddddeeeezzzz páginas. Os caras queriam saber até se eu dormia do lado esquerdo ou direito da cama. E vou para a tal entrevista na terça-feira, acho que será mais uma dessas dinâmicas de grupo do que uma entrevista propriamente dita. A vaga, ou vagas sei lá, é para trabalhar na Energizer. Sim, aquela fábrica de pilhas. Vagas para operar máquinas.
Por falar em Energizer, na terça-feira começou meu curso de Eletricidade Básica no community college. Caramba, o professor fala um dialeto tribal. Inglês, garanto que aquilo não é!!!! Não estou gostando muito das aulas, é teoria pura, tem de calcular OHMs, Watts, Resistência. Tem até de levar calculadora. Eu, que adoro números...
Embora o professor seja bastante difícil de entender, ele é do interiorzão e cheio de expressões estranhas para mim, o horário do intervalo é bem produtivo. Os intervalos, corrijo. A aula é das 18h30 às 21h30 e o camarada dá dois intervalos de 20 minutos cada. Diz que tem de fumar. Beleza, professor enrolão tem em todo lugar. Mas no recreio consigo socializar e respondo a questões interessantes sobre o Brasil. Futebol? Claro! Mas o feminino!!!! Ninguém fala de Ronaldos ou Cacá, e sim da Marta. Faz até sentido, já que aqui os caras bons de bola usam saia. Também conhecem o Lula, o álcool e o biodiesel. Em geral, todos acham que falamos espanhol. Aliás, para eles, abaixo do Texas, Novo México, Arizona e Califórna é tudo uma coisa só: México. É como se Santiago, Buenos Aires ou Brasília fossem capitais de estados mexicanos. Mas isso eu já esperava. Surpresa mesmo foi quando o cara me perguntou se o Brasil era uma ilha. Tive de responder que sim. Mas fui legal e expliquei que era uma ilha muito grande e era até maior que um dos continentes. Devido à imensidão, os políticos do passado estavam querendo dar ao Brasil o estatus de continente, mas os Estados Unidos, que são maiores que o Brasil e fazem parte da América do Norte, não aceitaram que um outro país sozinho formasse um continente, então o Tio Sam liderou uma força-tarefa mundial no século XVIII para empurrar a ilha Brasil. Agora, o país faz parte da América do Sul. Todo o processo de encontinenamento do Brasil levou mais de 70 anos e consumiu a vida de milhões de escvravos índios e negros, que com cordas amaradas aos pés tinha de nadar rumo à América do Sul para puxar a ilha.
Para concluir, comecei também na semana passada a trabalhar com voluntário na biblioteca. Muito legal. Depois de explicar ao pessoal de lá que eu não poderia ajudar nas traduções para espanhol porque na ilha Brasil se fala Português, fui designado, na condição de jornalista, a organizar os jornais para a microfilmagem. Engraçado como em cidadepequena tudo vira notícia. Tem dia que a capa do jornal é um cara correndo. Estava chovendo e o fato de correr na chuva é... notícia! Outra capa engraçada é a de um senhor com longas barbas brancas sentado num banquinho no centro da cidade com uma velha foice em punhos. A manchete: 'calma, ele não veio te buscar, apenas trouxe a foice para avaliação no antiquário'.
Bom, vou ligar a CBN e descobrir o que aconteceu com o Felipe Barrichello.
Beijos e saudades.
PS.: Isa e Marisa estão ótimas, dormindo nesta manhã dominical. O gato passa bem. Comeu um inseto, mas vomitou junto com a bola de pelos. Depois, comeu de novo. Vá lá entender.
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
Novas notícias do front
Muitas novidades por aqui. A primeira é que hoje, depois 18 dias, voltei a usar calça! Calma, nada a ver com o atraso sexual de dez meses. Neste aspecto as coisas caminham muito bem, até emagreci um quilo!!! É que, como não tenho emprego ainda, passo o dia de bermuda, já que o calor aqui é brabo. Para quem achava que Feira de Santana é quente...
Abro um parêntese para revelar meu mais profundo temor nesta temporada além-terra: ficar com saudades de Feira de Santana. Se, ou quando, este dia chegar, fudeu. É hora de arrumar as malas e sair daqui - para algum lugar ainda mais longe!
Bom, pus meus bons e velhos jeans por uma razão específica: prova para a carteira de motorista. Achei que não pegava bem chegar lá de shortinho... O fato é que passei nas provas escrita e prática e já tenho carteira de motorista daqui. É um facilitador, porque posso deixar o passaporte em casa e agora tenho um documento norte-americano - estou autorizado, finalmente, a fazer meu cartão da biblioteca. O cara que fez a prova prática comigo pesava uns trezentos quilos e reclamou do aperto do carro. Creio que é mais fácil ele emagrecer do que o carro engordar. Aliás, como tem gente obesa por aqui.
Outra excelente notícia é que fui aceito no mestrado. Optei pela versão online do curso, porque preciso trabalha para pagar as mensalidades (trouxe dinheiro suficiente para saltar os primeiros 10 meses) e também admito um certo medo das aulas presenciais em inglês. Mestrado é meio hard e não confiei que teria desenvoltura suficiente ao vivo e em cores na língua de Poe. Pois sim, até pensei que o curso online seria mais fácil. Puro engano... As aulas começaram hoje e está sendo bem pesado. Estou apenas no workshop inicial e já tive de postar quatro textos... O mestrado é em Educação, mais especificamente, Educação de Adultos. Escolhi a Universidade de Phoenix, a mais conceituada e tradicional em ensino online.
E me inscrevi num curso do Community College chamado 'Eletricidade Básica'. Começa na próxima terça-feira. O lance é o seguinte: quando voltar em 2010, se a questão do emprego apertar, me ofereço de eletricista na CEB!!!!!!!!!!
Saudades,
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
Meu primeiro aviso de tornado!
Hoje vivi, e sobrevivi, meu primeiro 'aviso de tornado'!!!!
Bom, o primeiro alerta foi da Isa. Lá estava eu comprando lápis naStaples, uma papelaria gigantesta, quando toca o celular. Eu dissecelular, mas corrijo: walk talk. É que só aIsa liga para mim, então funciona mais como rádio de comunicação!!! Naverdade, meu amigo Jorge, da CEB, fez a primeira ligação do Brasilpara mim, na semana passada. E meu irmão Téo já me ligou várias vezes.Certamente, quando a conta do telefone chegar meu querido irmão vaiperceber que é melhor usar o Skype, como eu sugeri. O pessoal do Visatambém já me achou aqui e rejeitei várias ofertas de cartão decrédito.
De volta ao tornado. Lá estou eu feliz da vida entre zilhões de tiposde lápis quando a Isa liga e determina que eu volte para casa porque aescola acabara de ser avisada da formação de tornado em Siler City.Siler é a cidade onde a Isa trabalha, fica a 30 minutos de Asheboro,onde moramos. Voltei para casa. Não porque ela mandou, e sim porque às13h00 começaria Hauting, o programa do Discovery Channel sobreassombrações que vejo todo os dias. Tem me ajudado muito, porque parafazer clima de suspense o narrador faz aquela voz grave, empostada efala mais devagar, ou seja, entendo uns 70% do que ouço. O foda é quedepois fico morrendo de medo de ir à cozinha e os pratos do almoço edo café da manhã precisam ser lavados. Aqui é tudo muito escuro e osbanheiros e a cozinha não têm iluminação natural. Eles são muitoviciados em iluminação elétrica.
Bem na hora que ia aparecer o fantasma que assombra a casa de umafamília no Colorado o som do programa some, toca uma sirene e apareceuma tarja na tela avisando que o Serviço Nacional de Tempo lançou umaviso de tornado para Asheboro!!!!!!!!!!! Oba, vou ver umas vaquinhasvoando!!! O aviso é apavorante, falam para você não sair de casa eprocurar um ponto seguro na residência, como dentro do armário ou nocorredor, onde as vigas podem salvar sua vida em caso de desabamento.Elas se escoram e formam um espaço de sobrevivência, a menos que caiamsobre você. O mais importante é ficar longe das janelas. Meu primeirosentimento foi de encher a banheira de travesseiros e deitar, mas quefiz eu? O que qualquer curioso faria, peguei minha cadeirinha e fuipara a varanda! Estava sol, mas logo o tempo mudou para um nubladocaminhando para noite. Pensei, puta que pariu a meteorologia funciona aqui!!!!!!!!!!!!!!!
Chovendo, desisti da varanda. Fiquei sentado à janela. Sou do tipocachorro, mas como a Marisa gosta muito do gato dela, o peguei no coloporque senti que o bichinho podia precisar de proteção. Os gatos sãomuito independente - isso é um capitulo à parte, deixo para depois - elogo e me abandonou. Fiquei eu sozinho com medo, digo, o gato foi paraum canto sozinho, com medo.
A chuva começa a ficar mais forte. Liguei o rádio. O rádio, como diriaMarcelo Ramos, é o melhor meio de comunicação do mundo. No rádio elesnão falam de outra coisa. Agora o tornado tem hora marcada paradestruir Asheboro: 14h29. Puta merda, faltam só 15 minutos!!! Aprimeira coisa que passou pela minha cabeça foi: merda, nunca escrevium livro. Já tenho uma filha e plantei uma goiabeira em Feira deSantana na década de 80. Se tivesse escrito um livro poderia morrer empaz. Na sequencia pensei que, desempregado, não ia deixar pensão paraa Isa e para a Marisa. Relaxei, porque a Isa nunca dependeu de mimpara nada mesmo...
E o céu só ficando escuro, escuro e a chuva aumentando. 14h20, 14h22,14h24 e eu apertado para fazer xixi. Vou ou não vou ao banheiro? Não,quero ver o tornado! Mas é melhor esvaziar a bexiga agora do que memijar de medo... Fui ao banheiro.
14h24:32 (sim, em 30 segundos fui ao banheiro e voltei à janela.Claro, antes, lavei as mãos, e com sabão). 14h25. 14h26. Caramba,tenho tempo para uma ligação. O último telefonema da minha vida. Paraquem ligar? Para quem ligar? 14h27, tique-taque, 14h28, tique-taque.Para quem ligar? O último minuto da minha vida e eu pensando que amelhor coisa a fazer era ligar para o 0800 do Visa e dizer: vocês sãochatos pra caralho e a partir deste momento nunca mais vão melocalizar por telefone!
Beijos e saudades.
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
Notícias do front
Tenho de ser rápido, porque a Isa vem almoçar em casa hoje e a comida tem de estar pronta antes dela chagar. Do contrário, terei de dormirno sofá de novo.
Bom, já tenho telefone. Aliás, já não, porque o ganhei da Isa ainda no aeroporto quando cheguei no sábado. É que ela precisa falar comigo várias vezes por dia para determinar o que eu preciso fazer em casa. O meu telefone é 00 XX 1 336 2670643. O número que informei em mensagem anterior (00 XX 1 919 7045760) é da Isa e deve ficar registrado também. Não temos telefone em casa. A patroa conseguiu um pacote na operadora de celular que nos permite falar de graça um com o outro em qualquer lugar do país. Assim, ela pode, como já disse, falar comigo quando quiser. Se vocês precisarem de algo da minha pessoa, devem antes pedir autorização a ela.
Também já tenho um carro só meu. Ganhei-o junto com o celular, ou o contrário. É que preciso dele para fazer as compras no mercado e também levar e buscar a Marisa para vários locais, conforme a Isa decidir.
Estou perdendo tempo contando isso, porque o ferro está ligado e preciso passar uma pilha de roupas antes de entrar na cozinha, então às notícias:
1 - Caos total, o zipper de uma das malas estourou e perdi algumas coisas. A principal delas, fora o pente especial que desenergezirariao cabelo da Marisa conforme minha irmã Lu, foi o meu caderninho com informações de todos e todas vocês, então, por favor, respondam este e-mail com os telefones e endereços com CEP (sim, pretendo enviar cartas!!!!).
2 - Na segunda fiz a prova de direção da seguradora e desde terça estou autorizado a dirigir aqui. Loucura total, já levei três buzinadas. É que é permitido virar à direita no sinal vermelho caso não venham outros carros. Sou muito certinho para invadir sinal vermelho, ainda mais na casa dos outros!!!!
3 - Ainda na segunda enviei por correio toda a documentação para receber a autorização de trabalho. Deve chegar em 15 dias. Com este papel, peço o número do seguro social e, depois de mais um prazo, estarei de fato liberado para trabalhar. O processo todo deve durar cerca de um mês. Preciso do seguro social também para fechar a matrícula no mestrado. É que, com ele, terei mensalidade menor do que como estrangeiro.
4 - Começo na próxima semana um curso de espanhol e outro qualquer no Community College (há zilhões de cursos, uns bem legais, outros nem tanto). Queria fazer inglês lá, mas fiquei num limbo entre os que nada sabem e os que tudo sabem. Não há curso para quem sabem apenas algo, então, vou fazer algum curso profissionalizante para ter contato com o idioma. Gostei de um curso de conserto de motos antigas, mas infelizmente não poderei fazer. É que há também aulas de corte ecostura, daí a Isa constatou que seria uma ótima oportunidade para que eu aprendesse como reparar as meias dela.
Creio que por enquanto é isso, pessoas. Estou em processo de adaptação, mas muito feliz.
Confesso que há muita saudade de todos e de tudo, engraçado como várias circunstâncias ou objetos me fazem lembrar algo ou alguém.
Beijos, mandem os endereços/telefones e lembrem de nós nas orações.
segunda-feira, 18 de agosto de 2008
Primeiras Notícias
Apenas para dizer que eu e Marisa chegamos em casa e estamos bem. Alguns probleminhas no aeroporto de Miami, mas nada que tirasse o humor por completo. Em resumo, nossa pequena família está novamente completa e feliz.
Mando mais notícias depois, agora tenho de arrumar a casa. Já lavei alouça e a roupa. Também fiz o café da manhá. Vida de dono de casa náoé fácil...!!!!!!!!!!!
Beijos, saudades.