quarta-feira, 1 de outubro de 2008

O outro lado da cerca

Olá, pessoas!

Algumas semanas antes de vir para cá fui com um grupo de amigos a um show do Paralamas e Titãs em Brasília. Não lembro o nome do lugar, mas é um galpão sem qualquer acústica perto da Vila Planalto. Bom, antes de dizer o que realmente interessa, lembrei que naquele dia eu fui o tal 'amigo da vez'. Tinha uma blitz na L2 e fiz o retorno três vezes, mas os PMs foram incapazes de me parar. Tenho certeza que no dia que eu tomar meio Martini vou preso. Ser amigo da vez não é a marivilha que pensei, tive de pagar o ingresso - mais, antes fui até lá comprar as entradas de todo o grupo - e só me serviram água. Minto, o sanduíche depois no Sky's também foi por conta dos bêbados. Passei na Blitz antes e depois do Sky's, nada de bafômetro. Ao todo, foram SEIS tentativas frustadíssimas de ser parado. Queria muito ter sido aprovado no teste. Esses meus quatro amigos estariam no meu bolso para o resto da vida...

Ingresso. Era disso que eu queria falar. Estávamos no camarote, uma das maravilhas da vida pequeno-burguesa que em geral passa a ser possível em algum ano próximo ao trigéssimo. Como só eu estava sóbrio, tive tempo de sobra para divagar. Uma cerca de 1,20 metro separava a área do camarote do 'resto' da platéia. Lembrei das tantas e tantas vezes em que estive do outro lado. "Então, é assim estar no camarote?!". Posso, como sempre, estar enganado, mas na minha época do outro lado o camarote era lateral. Quem pagava o ingresso simples conseguia chegar perto do palco. Agora, quem não tem tanto dinheiro (mesmo as entradas mais baratas são caras demais) fica a dezenas de metros do palco.

A novidade é que estou novamente do lado de lá. Aqui nos Estados Unidos fui empurrado de volta. Não dá para entrar em camarote sem carteira de trabalho. Muito menos vivendo do salário da esposa. E foi de novo como estudante que voltei a Nova Iorque. E, já adianto, foram três dias muitíssimo divertidos.

Conheci NY em 95, ano que eu e Isa casamos. Não, não foi lua-de-mel. Casamos em janeiro, viajamos em dezembro. Nossa lua-de-mel foi, ou melhor, ia ser, nas cidades históricas de Minas.
Vale a pena abrir o parêntese.

Casamos sem um puto no bolso, Isa estudava Economia na UDF e dava duzentas mil aulas de inglês por dia; eu fazia três estágios: manhã, tarde e madrugada. Faculdade à noite. Claro, não tínhamos carro. Mas temos eu e Isinha a sorte de compartilhar o gosto por coisas antigas, que venham com história (essa é a desculpa mais chique para termos o apartamento de Asheboro inteiro montado com móveis usados, digo, 'com história' - parêntese dentro do parêntese? Devia ter usado colchete).

Assim, decidimos passar a lua-de-mel nas cidades históricas de Minas. Ouro Preto, Mariana, etc, etc, etc. Sem roteiro definido, nada de hotéis agendados ou programas marcados. Aonde desse vontade de ficar, a gente achava algum lugar dentro do orçamento. Como é bom ter 20 anos!!! Bom, destino escolhido, faltava o meio de transporte. Conseguimos emprestado da irmã da Isa um Chevette 1989. Era 95, um carro de seis anos está em plenas condições de uso. Era o que imaginávamos...

Eu era tão duro que não tinha dinheiro nem para tirar a carteira de motorista, então, só a Isa dirigia. Passamos a primeira noite no Hotel Bonaparte e saímos no meio da manhã rumo a Minas. Lá pelas tantas começou a sair fumaça do motor do carro. Meio do nada antes de Paracatu. Só nos restou pedir carona. Parou uma família bem simpática de BH, tempos depois até os reencontramos na fila para o visto na Embaixada dos Estados Unidos. O Brasil, como todo norte-americano sabe, é uma ilha.

Retomo. Carona até Paracatu, conseguir um guinho em pleno domingo, voltar até o Chevette, trazê-lo até a porta da primeira oficina e morrer em R$ 80. Como disse, era domingo, oficina fechada. Fizemos uma estravagância: nos hospedamos no melhor hotel de Paracatu. Tinha até ar-condicionado. Manhã de segunda, esperamos a oficina abrir.

A oficina era do seu fulano, mas seu fulano estava quase cego e o filho do seu fulano fazia as coisas, sob ordens enfáticas do seu fulano. Diagnóstico: retífica. O termostato estava quebrado e o cabeço rachou. Não sabia o que isso significava, mas me pareceu grave. Tudo por causa de uma mangueirinha de nada que ressecou e jogou toda a água fora. Pensei que o carro era movido a gasolina, e não a água.

Seu fulano adorava jogar damas e nunca tinha perdido uma partida para qualquer um dos paracatuenses. Isa se oferece para jogar com ele. "Isinha, deixa o velho em paz, ele é o dono da oficina, trabalha muito, deve estar cansado". "Sente, minha filha". "Isinha, deixa o velho em paz". O diabo da mulher é teimosa. Pior, sabe jogar damas! Ganhou a porra do jogo. Seu fulano ficou puto da vida, colocou o tabuleiro debaixo do braço, as chapinhas de refrigente num copinho de alumínio e sumiu. Resultado do jogo: o conserto do carro levou três dias e custou R$ 800. OITOCENTOS reais em 1995, dava para ter comprado o Chevetti!!!!

Mas lua-de-mel é só festa. Catamos as moedas do troco e seguimos viagem. Ao chegar em Presidente Olegário, a cidade seguinte, outra mangueira do Chevetti estoura. Mas a boa notícia é que desta vez o termômetro avisou e paramos em tempo. Noite, dormir na cidade e esperar um loja abrir. Mangueira nova. Saímos de PO na manhã seguinte rumo a Brasília. Quanto mais longe, mais caro seria o guincho para nos levar de volta à capital!!!!

Fecha parêntese.

E tchau. Acabou o espaço, Nova Iorque fica para outro dia.

Beijos e saudades,

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