quarta-feira, 14 de abril de 2010

Novos álbuns

Olá, pessoas.

Aí na esquerda há agora três apresentações de fotos. O domínio dessas coisinhas de tecnologia não é minha especialidade, aliás, sequer desejo - tenho apenas resignação, então, é meio bagunçado mesmo.

Na verdade, a Isa teve de pôr as fotos no Picasa dela (olha o respeito!) e liberar aqui no Oraite. Legendas, quando há, foram da Isinha também.

O primeiro grupo de imagens é do domingo da Páscoa em Washington. Aliás, vimos a comitiva do Obamão saindo para a Igreja. Quinze carros. Eu aposto que ele era o primeiro batedor, na moto.

Na sequência há registros da viagem que fizemos mês passado para Charleston, Carolina do Sul. Ótima comida e arquitetura histórica, mas o melhor foi visitar a reprodução de uma base no Vietnã e o porta-aviões e submarino, ambos da Segunda Guerra. Perceba a mudança de temperatura de um mês para o outro. Nevou em março em muito lugar e agora dá para andar sem camisa pelas ruas (não fosse o pudor moralista reinante - uma família daqui teve de pôr sutiã numa estátua de gelo no jardim porque os seios estavam visíveis, deu polícia e tudo mais).

Por fim, há ainda fotos da Flórida, de dezembro: Miami, Hollywood Studios, em Orlando, e base da Nasa, em Cabo Canaveral.

Clicando em qualquer um deles você pode navegar por todos, com as imagens em tamanho maior e opção de slide show.

Beijos e saudades,

terça-feira, 13 de abril de 2010

Sobre tíquetes e bancos


Olá, pessoas!

Está dado o passo definitivo para a volta: a compra das passagens. Estamos, eu e Isa, de tíquetes em mãos para 14 de junho, no novo vôo Atlanta-Brasília. Marisa fica por aqui mais um tempo, deve voltar em 12 de julho. Entre uma data e outra, a Pequena vai participar de um summer camper de teatro. Vão encenar Mogli, o Menino Lobo. Por aqui eles chamam de The Jungle Book, o que mostra que uma boa tradução pode melhorar o título.

Chegaremos no dia 15, justamente estréia do Brasil na Copa. Eu, que nunca dei muita bola para futebol (entendeu o trocadilho? Sinapses, sinapses...), nunca esperei uma partida com tanta ansiedade.

Por aqui estamos em pleno ritmo de volta, a casa começa a esvaziar, à medida que vendemos os móveis ou despachamos caixas e mais caixas com tudo que a Isa comprou na terra-do-você-sempre-pode-ter-mais. Acho que agora ela tem roupa para seis meses sem repetir uma peça. Fora as bolsas.

Na operação desmonte encontrei as provas do meu primeiro roubo, cometido em um banco aqui de Asheboro. Sim, já roubei um banco, aliás, várias vezes. Tá bom, antes de explicar tenho de confessar que não foi exatamente o primeiro roubo. Fazendo uso da absurda prescrição de crime existente no Brasil, vou revelar o ocorrido há mais de 20 anos.

Era final dos 70 ou início dos 80 e morava vovó Maria (essa é a Maria materna, porque a paterna também chamava Maria) num casarão na Avenida Senhor dos Passos, a principal de Feira de Santana naqueles idos. Quando alguém dizia que estava "indo para a rua", queria dizer que ia à Senhor dos Passos ou vizinhanças. A tal casa ficava sobre uma loja na qual décadas antes meu avô tinha uma sapataria. Do outro lado da rua esse mesmo meu avó foi assassinado a tiros, bem diante dos olhares de mainha e de um dos meus tios, que esperavam a chegada do pai da sacada. Não conheci o vovô e até hoje não sei o porquê de o mataram, mas hoje ele é nome de rua lá em Feira.

Sim, ao crime, porque se for contar a história da família ou as consequências do assassinato o espaço acaba. Domingo íamos sempre almoçar na casa de vovó Maria. Semana na casa da paterna, semana na casa da materna, mas sempre vovó Maria. Aliás, a escolha da vovó Maria a visitar era tema de brigas constantes. Minhas recordações de Natal incluem meu pai de cara amarrada porque estava ou tinha de ir à casa da outra Maria. E olha que se tem alguém sem o direito de reclamar de sogra é seu Fernando.

A sapataria, sem o vovô, faliu e vovó Maria passou a alugar o espaço. Não sei se antes de mim outra coisa operou naquele lugar, mas desde que me conheço por gente funciona lá a bomboniere da dona Odete. O nome deve ser outro, mas é definitivamente uma bomboniere e a dona é a dona Odete. E esses almoços eram do tempo em que domingo era domingo, com missa, lojas fechadas, famílias reunidas e tudo mais.

Vovó Maria sempre fazia pratos que só de pensar me enchem a boca d'àgua - como a macarronada, o frango assado ou o fígado ao molho (sim, fígado pode ser delicioso), seguidos de um pudim que nunca encontrei igual em qualquer lugar. Mas a sobremesa da molecada era mesmo no depósito da dona Odete. Como antes a loja era da família, havia no quintal uma porta de acesso ao estoque da então sapataria. Sem muito esforço a gente arrombava a porta e fazia a festa. Pronto, depois da confissão só me restam dois pai-nossos e cinco ave-marias para ser perdoado.

De volta ao banco. Há aí nesta foto umas dúzias de canetas e lápis. Não mais do que cinco ou seis foram compradas. As outras foram apenas surgindo, a maioria trazida pela Isa como brindes de atividades docentes. Eu dei alguma contribuição.

Recebo o pagamento do mercado do Wal quinzenalmente e vou direto ao drive-thru do banco depositá-lo na conta da Isinha. Mas não é o suficiente - o Wal-Mart é um histórico e famoso mau pagador, ela ainda exige que eu lave as roupas, o banheiro e a louça. O divertido do banco de dentro do carro é que para mandar e receber papéis a gente usa essas cápsulas de acrílico em um tunel de ar comprimido. Me divirto profundamente cronometrando o tempo de ida e vinda da cápsula.

E a moça do caixa sempre me mandava o casulo de volta com uma caneta dentro. Oba, brinde, bolígrafo no bolso. E foi assim por vários meses, até que uma dia a jovem me interfonou, e da janelinha eu vi o sorriso delicado no rosto da bancária:

- Seu Marico (aqui todo mundo me chama de Marico, eles simplesmente não conseguem pronunciar meu nome), o senhor poderia fazer a gentileza de, desta vez, não levar a caneta do banco?

Beijos e saudades,

quarta-feira, 7 de abril de 2010

sexta-feira, 2 de abril de 2010

O blog da Pequena



Eu devo realmente estar ficando velho.

Não, não, não que eu ache isso ruim. Muito pelo contrário, envelhecer é um prazer inesperado. Me sinto melhor a cada dia, fora uma dorzinha aqui, outra ali, o crescimento da barriga e a queda de cabelos. Eu tinha decido fazer tratamento contra calvice, só que o médico disse que o maior efeito coletaral era o risco de diminuição do desempenho entre quatro paredes. Nunca mais voltei ao consultório do cidadão. Achei que a careca me cairia bem, mais do que eu, a Isa, que passou ela mesma a raspar minhas madeixas, um gesto desesperado para esconder a clareira que se abre no centro do cucuruto.

Eu dizia que a juventude é enfadonha, uma espécie de pressa-lenta que nunca termina, é como tentar correr a maratona no ritmo dos 100 metros. O jovem é um cochilo do divino, quase um erro da natureza. Vai ver Deus era muito novo quando fez o mundo. Se fosse mais experiente, o Criador teria incluído um período sabático no nosso amadurecimento. Não, sabático é coisa de rico em crise de meia idade. O melhor mesmo seria uma hibernação. É, todo mundo devia hibernar dos 18 aos 32 anos. Daí a gente acordava pronto para a vida, depois de ter curtido a infância e sem o imediatismo bobo da casa dos 20. Durante esse período cada um curaria todos os traumas de infância, para desespero dos psicólogos, que agora teriam de mudar de ramo. Aliás, se a hibernação-amadurecedora existisse, a profissão sumiria. Não sei se o mundo seria melhor sem psicólogo, mas com certeza eu economizaria um dinheirão em terapia.

O fato é que, apesar de ter apenas 36, me sinto completamente de outra época. Tudo mudou tanto nestas duas últimas décadas que estou quase obsoleto, superado, um objeto do século passado. E o século passado tá ali, se a gente olhar para trás ainda o vê na esquina. Só que agora dez anos parecem uma eternidade.

Uma das coisas diferentes hoje é a relação pai/mãe-filho/filha. Me lembro de ter um medo enorme de meu pai, quando ele ia chegar do trabalho a gente tinha de estar em casa e de banho tomado, com a tarefa da escola pronta. Essa última parte eu furava, mas no resto seguia o mandamento à risca. E a gente apanhava também. Lá em casa, não do pai, mas da mãe. Melhor, eu disse a gente, mas devo corrigir: eu apanhava. Minhas irmãs e o irmão nunca fizeram por merecer. Mas eu lembro de ter levado surras quase homéricas de dona Nilma nos anos 70 e meados dos 80.

Não quero discutir o efeito educativo da palmada, mas era um direito dela me bater e pronto, ninguém discutia isso. Parêntese. Vou avisar logo aos saudosos da pancada que não existe esse tal de corretivo físico, mainha sofria bem mais do que eu nas surras. Eu vou te bater! Tá aqui ó, eu trouxe o seu tamanco - e esticava a mão aberta. Uma, duas, três, dez chineladas e nada. A senhora cansou, o braço tá doendo, acha melhor buscar o cinto de painho? Em mim não fez nem cosquinha... Fecha parêntese.

Agora não, a coisa está mais complicada. Outro dia, a Isa apertou o braço da Marisa e foi um escarcel, a Pequena saiu me gritado a mamãe me bateu, a mamãe me bateu! Se ela tivesse visto as surras que eu levei... Mas a Isinha nem tinha encostado o dedo na guria, apenas segurou o braço com um pouco mais de força, nem a marca dos dedos ficou. Pois a menina ficou apavorada, com cara de eu-vou-te-denunciar-ao-SOS-Criança.

Outro novidade é o castigo escolar. Eu já fiquei muito tempo de pé com a cara na parede. Também já escrevi dezenas, centenas de vezes no quadro negro (que por onde passei - e são quase três décadas de escola em uma dúzia de instituições - sempre era verde) 'não vou mais puxar o cabela das meninas' ou 'não devo chutar a pró'. Pró é como baiano chama a professora, é que dá uma preguiça danada dizer essa palavrona toda. E passei horas sentado na cadeira do burro. Não só sentado, mas usando um chapéu enorme feito de cartolina que tinha até as orelhas do burro. As orelhas podem até ser uma traição da minha memória floreada, talvez até todo o chapéu, mas que a cadeira de burro existia, existia.

Eu ainda ia dizer que apanhei de palmatória na escola, mas essa eu tenho certeza que é filha da minha imaginação. Por outro lado, no colégio de Salvador onde eu terminei o primeiro grau, lá pelos 14 anos, os alunos tinham de ficar em pé toda vez que um adulto entrava na sala. E só podia sentar quando, e se, a pessoa liberasse. E nem era colégio militar ou de freira.

Hoje a vida da molecada é muito mais mole. A Marisa está sob punição escolar. Calma tio e tias CDFs, a sobrinha continua seguindo os passos de vocês e já está passada de ano, como manda a tradição familiar que vocês criaram e esqueceram de me avisar (e, principalmente, de deixar um restinho do gene para mim). É que estamos de férias, chegamos hoje a Washington, DC e só voltaremos para casa no dia 11. Aqui há o que eles chamam de spring break, uma pausa de uma semana nas aulas para comemorar a chegada da primavera. Lembram dos dias sem aulas que a Pequena passou em casa por causa da neve? Pois sim, o castigo, como dizia toda Nilma, sempre volta a cavalo. A neve de janeiro reduziu o recesso de abril para meia semana. Como a gente já tava com hotel pago, viemos assim mesmo. Só que como na terra-do-hamburger-e-fritas-no-lanche-escolar faltar aula dá assistente social na sua porta e até cadeia para os pais, Marisa foi obrigada a escrever um relatório diário da viagem.

Nesses tempos muuuudernos, o formato escolhido, sem gasto de papel e obtenção de 314 créditos de carbono, foi o blog. O endereço da página da Florzinha é www.iaroundtheglobe.blogspot.com, mas você pode clicar aqui que eu te levo lá. Resumindo, eu dei essa volta toda para dizer: tem blog novo na área, vá lá e deixe um comentário.

Beijos e saudades,

(imagens: www.clasesparticulares-madrid.es e www.eb23-cmdt-conceicao-silva.rcts.pt/sev/hgp)