quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Coincidência

Pois não é que no dia em que ponho para fora minha suspeita de sabotagem sobre minha autorização de trabalho o documento chega?

Então é isso. Agora já tenho a permissão para trabalhar, só falta o emprego. E eu já estava tão acostumado a cuidar da casa e estudar... Antes do emprego preciso do número do seguro social, é como o nosso CPF, sem ele você não vale muito. Eu só podia solicitar o meu depois de receber o cartão de trabalho. Já fiz a solicitação e o seguro social deve chegar pelo correio até terça-feira. Tem um emprego aí, tio?!?!?!?!?

A diretora da biblioteca me deu hoje uma excelente carta de recomendação, tomara que seja útil. Retornei à Energeizer, as vagas foram realmente preenchidas, mas estou aprovado e quando houver novas oportunidades posso ser chamado. Claro, espero conseguir outro emprego antes disso. Minha meta é trabalhar só um turno, assim terei tempo para estudar e ainda posso ajudar na biblioteca uma ou duas vezes por semana, além dos afazeres domésticos, óbvio!

Beijos, saudades,

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Sabotagem



Olá, pessoas!


Hoje é o dia 70 desde que enviei ao Tio Sam o pedido de autorização para trabalhar. Começo a achar estranha a demora, já que tem gente que recebe o documento em 15 dias. Creio que sou uma possível vítima de sabotagam.

Não, não acho que algum funcionário do governo norte-americano está atrasando minha vida, tenho uma desconfiança muito mais palpável. Só pode ser ela, a Isa!!!! Eu simplesmente não tenho acesso à caixa de correio. A chave está sempre com ela, que insiste em considerar desnecessário fazer uma cópia. Toda dia quando ela chega do trabalho, e eu estou de banho tomado, cheiroso e com o jantar pronto no fogão, sempre perguntou: chegou? Não, nunca chega a tal autorização.

O pior é que começo a me aconstumar com a vida de dono de casa! A comida já está melhor, já sei combinar as cores das roupas para pôr na máquina, descobri que não se deve passar ferro quente sobre roupa com estampa e sei cozer furos em uma meia-calça de forma a deixá-los imperceptíveis. A Florzinha tem inclusive um prato predileto do meu receituário: boi quente - cachorro quente ao forno feito com picadinho de carne servido com salada e batata palito ao forno. Para ter detalhes da receita, aguarde o manual.

O duro é que preciso de dinheiro para terminar de pagar o mestrado, faltam-me cerca de sete mil dólares. Sem falar que circular sem dinheiro no bolso é uma sensação bastante desagradável. Um casal de amigos passou uma semana em Nova Iorque e quis enviar a eles um material da campanha eleitoral daqui, broche, adesivo, santinhos, por conta de umas discussões que divemos sobre Mcain e Obama. Pois sim, escrevi um bilhetinho, preparei o envelope e fui ao correio. Tinha fila, não sei o que tanto os aposentados daqui vão fazer no correio. Tem sempre vários na fila. Aguardei a minha vez, a mocinha mediu, pesou e apalpou o embrulho, quis saber se a parte sólida era f'rágil, disse que não e ela fechou a conta: nove dólares. Nove dólares!! Só para mandar umas coisinhas daqui para ali... Cato minhas moedas e as cédulas amassadas, somo tudo, e o povo nervoso na fila, recolho as moedas que cairam no chão. Nesta hora a impaciência coletiva começou a ganhar volume e dei minha vez ao próximo. Contei todo o dinheiro no balcão ao lado, três vezes: US$ 7,55.

Voltei para casa sem postar a porcaria da carta. E tomei uma decisão. Desde então, ando sem um centavo no bolso. Assim não passo constrangimento, sei que estou sem dinheiro e ponto final.
(imagem: portugues.istockphoto.com)

sábado, 25 de outubro de 2008

Jerimum Elétrico


Olá, pessoas!

Estamos a pouquíssimos dias do Halloween, vulgo Dia das Bruxas. Eu podia explicar a origem celta da festa, mas não quero dar na cara o que ando aprendendo no Google. Marisa está empolgadíssima, já estamos com a casa cheia de doces à espera das crianças da vizinhança. Vai ter festa para todos os lados e a semana de aulas, segundo a Isa, é perdida, porque todo mundo só quer saber de diversão.

Ontem compramos a fantasia da Pequena - a Marisa escolheu, a Isa pagou e eu empurrei o carrinho. Eu jurava que ela ia querer algo assustador, mas estamos falando de uma florzinha, então, Marisete vai sair no Dia das Bruxas fantasiada de líder de torcida. Se brincar, acordará às quatro da manhã para passar chapinha nas madeixas!!! Aproveito para agradecer àquela amiga que me deu o Aurélio Online. É minha única referência do Português, porque o Bill Gates daqui só corrige textos em inglês. Sem o Aurélio não saberia que madeixas é com X.

Pois sim, e hoje passamos toda a manhã preparando nossas abóboras. Muito divertido, e ainda salgamos e torramos as sementes. Deliciosas. A receita vai sair no Manual do Cozinheiro de Emergência, nome provisório com tendência a permanente, já que não recebi qualquer sugestão. Ficaram lindas, não? Mais fotos na apresentação de slides da esquerda (clique para vê-la ampliada ou navegar nos outros álbuns disponíveis no Picasa). As abóboras funcionam no folclore local como carrancas. Xô, satanás!

Agora que os maus espíritos estão afastados posso voltar a assistir Haunting no Discovery. Parei de ver há umas três semanas quando, logo depois de um episódio, fui tomar banho. A questão é que ao acionar a luz do banheiro você liga também o exaustor, e detesto o barulho. Para evitá-lo, tomo banho com a luz do banheiro apagada, a do corredor acessa e a porta aberta. Não há iluminação natural no banheiro ou corredor, então tem de usar a eletricidade ou ficar se tateando até achar o umbigo. O risco é enfiar o dedo no buraco errado.

Estou lá na penumbra sob o chuveiro, em pé dentro da banheira e protegido por uma cortina de plástico branco. Já me sentia mais tranquilo ao lembrar que Hauting nunca mostrou um apartamento assombrado quando uma sombra passa pelo corredor. Pensei, tenho de parar de ver essa porcaria de programa. Respirei fundo para fazer a alucinação sumir, mas a sombra passou de volta. A sombra foi em direção à cozinha e voltou. Puta merda, o Norman Bates tá no meu Ap!

Lembrei que a janela tipo guilhotina do quarto estava uns 15 centímetros aberta e, num cálculo rápido, percebi que era possível me atirar por ela e sobreviver com sequelas mínimas. Daí contratava um dos diversos advogados que se oferecem na TV para arrancar indenização até por unha encravada e ainda enchia a burra de dinheiro. Sai correndo balançando os bagos molhados, arrancando parte da cortina e já agachado para o mergulho derradeiro rumo à liberdade pós-janela. Mas a assombração foi mais rápida, maderializou-se: o feladaputa do Gato!!!!

Beijos e saudades,

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Patins!

Fomos ontem patinar novamente. Diversão eficaz e barata. você paga um dólar pela entrada na pista e mais 1,50 pelo aluguel do patins. O preço é promocional nas quartas. Nos outros dias o aluguel sai pelo mesmo valor, mas a entrada é 4 pilas. Como já começou a esfriar é uma ótima opção de atividade física, porque já parei de correr. Correr na rua com sete graus de temperatura é um pouco demais para mim. Quando tiver emprego entre em uma academia, assim posso usar a esteira.

Estou fugindo do assunto. Patins. O melhor foi o tombão da Marisa, que consegui filmar. A Isa disse que sou sádico, mas você também pode rir!

Por falar em Marisa, também ontem foi dia de fotos na escola. Essas fotos de perfil lateral - muito estranhas para nós, que são publicadas no Livro do Ano. Marisa acordou sozinha às 05h13 para tomar banho e lavar o cabelo. Levantei 05h55 e ela estava à mesa, já tomando café da manhã. Engraçado, né? Nos dias normais dá uma trabalhão tirar esta peste da cama...

Beijos, saudades.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Milionariamente só



Passam das três horas da tarde e faz sol. Está frio, 12 graus ou algo assim pelas minhas contas. Aqui eles usam um tal de Faren...qualquer coisa e até saber a temperatura vira uma operação complicadíssima.

Acabo de descobrir que fechando os olhos a madruga surge, o que é sempre perigoso quando a folha em branco olha para você. Cai na besteira de assistir sozinho ao DVD ao vivo do Capital Inicial. Queria tentar me achar em meio à multidão, já que a gravação foi na Esplanada dos Ministérios no aniversário de Brasília.

Bom, é 21 de abril. Feriado para uns. Dia de branco para outros. Sou um dos outros. Mas nem é tão branco assim. Antes das 11 horas já estava liberado.

Não está fazendo sentido, né?

Recomeçando.

Bom, é 21 de abril e o GDF preparou uma mega-hiper-super-power festa de 18 horas de duração na Esplanada dos Ministérios para comemorar os 48 anos de Brasília. Previsão de um milhão de pessoas. Segundo a PM, um milhão e duzentas mil passaram por lá. Há quem diga que o feriado do dia 21 é em homenagem a Tiradentes. Como hoje há também aqueles para os quais Joaquim sequer existiu (você realmente crê que o Armstrong pisou o solo lunar?), sempre associei o 21 de abril ao aniversário da Capital. É como o Dia das Crianças. Que papo é essa que é dia da padroeira?!?!?!?!?! Eu quero é meu presente!

Pois sim. Por causa da festa, trabalhei das 07h30 às proximidades das 11h00. Como esperava ficar durante todo o dia por conta da festança, recebi de muito bom grado a notícia de que podia pôr a viola no saco e curtir o resto do feriado em plena segunda-feira. Fui deixado em casa e resolvi pegar a bicicleta para dar uma volta pelo outro lado da Esplanada, a 'Brasília de cá' como diria Walter Lima. Durante as poucas horas de trabalho, transitei pela 'Brasília de lá', aquela dos palanques e palácios. Acabei contagiado pela festa, muitas famílias, gente que em geral não tem opções de lazer (teve metrô de graça) e resolvi voltar no início da noite para dois shows, um em comemoração aos 50 anos da Bossa Nova e outro do Capital Inicial. Aliás, a escolha dos espetáculos foi muito bem feita, tinha para todo mundo, de Rebeldes a Orquestra Sinfônica.

Da 'Brasília de lá' trouxe no pulso uma pulseirinha (pleonasmo ridículo, desculpe. O cara inventa a palavra para simplificar as coisas e eu desmancho tudo) que me dava acesso ilimitado aos shows. Neste ponto, você tem o direito de perguntar: Como assim ‘acesso’, se a festa era para a multidão? Então, vale registrar que as comemorações foram bem a cara de Brasília: por níveis, cada macaco no seu galho (lembrei agora de uma moça que trabalhou lá em casa, que nunca tinha ido ao Park Shopping ou ao cinema).

Para não ser chato, não a festa era estratificada, mas sim os shows. Havia grandes áreas VIPs diante dos palcos e alguém da 'Brasília de cá' jamais chegaria a menos de algumas dezenas de metros de quem cantava. Eu podia dizer, por questão pseudo-ideológica, que tinha resolvido ficar na área destinada aos não-VIPs, mas vou admitir que estava tudo tão cheio de gente que sequer consegui chegar na frente de palco para o Capital Inicial. Minha pulseirinha no pulso (!) não pôde ser mostrada a alguém e perdeu o efeito mágico de abre-te Sésamo.

Resolvi ir ao show do Capital porque os caras iam gravar um DVD e quem sabe eu aparecia na imagem? Tentar fazer parecer à Isa e à Marisa que os longos sete meses de solidão candanga não foram tão duros e até me diverti. Olha eu ali!

Só que de tanto pensar em me divertir, ou fazer assim parecer, senti uma profunda solidão, daquelas que exigem uma pessoa conhecida ao lado nem que seja apenas como figurante. Olhei para os lados e vi num relance dezenas, centenas de rostos desconhecidos. É sempre muito comum encontrar pessoas conhecidas em grandes eventos, mas olhava em volta e não reconhecia ninguém. Intrigado, resolvi andar pela multidão em busca do meu 'alguém'. Não me parecia possível deixar de reconhecer unzinho sequer em meio a milhares. Pois não é que, no bolo de um milhão e duzentas mil pessoas, estava completamente só? Nada, ninguém. Ninguém mesmo. Nem um daqueles 'acho que já vi esse cara' ou 'conheço essa moça de algum lugar'. Nada, absolutamente nada. Um milhão e duzentos mil estranhos, disformes, cantando "se você não entende, não vê / se não vê, não me entende".

E eu via, mas não entendia.

Daí veio aquela ânsia. Ligo ou não ligo? Quando sua existência é transferida para outro país a conta do celular passa a ter um peso inacreditável no orçamento doméstico! Ligar ou não ligar para a Isa? Ligo ou não ligo? O número está programado no celular, é só apertar um botãozinho de nada...

Claro, liguei.

Ou melhor, tomei a decisão de ligar. Tateio o local onde fica o celular e... nada. Estava com uma calça com onze bolsos, muito útil para dias de multidão - um assessor de meia pataca sempre tem tudo à mão, procuro em um, outro, mais um, aquele super escondido. Cadê a porra do celular? Nada. Fui roubado!

De fato, ninguém jamais está só. Tem sempre alguém de olho em você...

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Guerra de testosterona


"Como ex dona de gato, tenho que avisar. O bichano está delimitando território, você ainda não entendeu que a cadeira é dele e não sua. Para de insistir, vá gaste um pouco mais de sua parca finança e compre outra".

É o conselho que recebo em um comentário na mensagem de ontem. Só não vai dar para segui-lo. Primeiro, nem que eu quisesse poderia comprar outra cadeira, já que ela foi achada em uma loja de usados. Gostou? Compre na hora, no dia seguinte ela pode não estar mais lá. E outra, gastar por causa do gato já é demais!


Eu e ele vamos ter de nos acertar. A poltrona, como disse, pode até ficar com ele. Na imagem acima o gato vigia minha leitura. Se levanto, ele pula para o assento. Enquanto não saio, o gato fica a dar petelecos com a pata em minha orelha. É uma guerra de nervos, mas quase sempre venço. Ele pula daí e vai para outro lugar.

Na sequência, um montinho sobre a cama, o que será??? Pois lá está o preguiçoso dormindo. Quando eu demoro a arrumar a cama,
ele fica me rondando e miando aquele miado de bebê-deixado-com-a-avó-e-uma-mamadeira. Não dá para suportar. Vou ao quarto, arrumo a cama. Pronto, agora é paz. Ele vai dormir entre o edredon e o lençol por longas horas.

De lá ele só sai se estiver com fome ou se eu tiver esquecido qualquer sapado fora do armário. O gato tem prazer em destruir meus cadarços.

Não vou repetir os hábitos sanitários do felino sob minha mesa no escritório, vai parecer perseguição. Sou um amante dos animais. Já tentei uma aproximação maior. Peguei o bichano no colo, fiquei acariciando, ele foi dando corda, fui passando a mão sobre o pêlo (esse acento diferencial ainda está em uso?), o gato foi ficando mole, abriu a boca, começou a fazer um barulhinhos, o barulho foi aumentando, uns gemidos meio estranhos... Joguei o tarado para longe de mim.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Festival de Outono

Como você tem certeza de que está morando num tremendo interior?

Quando toda a cidade vai para a calçada da rua principal assistir desfille de caras de meia idade em seus carros conversíveis. Para disfarçar, eles aplicam uma coroa na cabeça de uma das quatro filhas e as colam em pé no banco do passageiro.

Pois este foi o desfile de abertura do Festival do Outono, um evento bem legal que se reproduz aos milhares em cidadezinhas dos Estados Unidos. Há comida típica e artesanato. Cá em Asheboro, claro, tivemos o nosso. Eu, como bom tabaréu de Feira, fui com Isa, Marisa e até Olívia, amiga da escola que veio dormir com a Pequena. Queria ter levado o gato, mas a Florzinha ficou com medo de perdê-lo em meio à multidão (de cem pessoas).

Tenho tentado, mas deixar o gato seguir a vida independente dele em outro lugar está difícil. O escroto insiste em usar a poltrona de leitura ou a cadeira do escritório. A poltrona tudo bem - elecochilava nela antes da minha chegada, mas a cadeira é super estilosa, da década de 70 e comprei por US$ 5 numa loja de usados. Se estou estudando, tenho de esperar horas para fazer xixi ou beber algo, se levanto, ele toma meu lugar. Não é tudo. Insiste o gato em mijar sob minha mesa no escritório, apesar de ter um banheiro só para ele. Mas ainda não é tudo. Quando ele está muito sentimental, faz cocô sob minha mesa. E reclama quando eu demoro a arrumar a cama, porque ele passa o dia dormindo entre o edredon e o colchão. Mas a cama não pode estar bagunçada não. O gato só dorme em cama estiradinha, tipo de hotel. Em resumo, há uma clara disputa de território entre machos. A diferença é que eu tenho de limpar o xixi que faço nos cantos.

De volta ao Festival. Foi uma mistura de tudo, carros antigos, policiais, escoteiros, trator, miss, carrinho de golf e até alguns candidatos a juiz e ao Senado desfilaram. Uma festa. Me senti no 7 de Setembro. Tenho de admitir que não perco o 7 de setembro. Já está no nível de obrigar a Marisa a ir. Aqui em Asheboro não teve bandeirnha do Brasil e os carros mais legais do Exército, comuns nos desfiles de Brasília e Salvador. Em Feira não há 7 de Setembro. Se os policiais vão todos para o mesmo lugar, os ladrões fazem a festa.

Beijos, saudades.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Olá, pessoas!

Apenas para dizer um oi rápido. Ainda estamos vivos cá em cima. Esta semana estou um pouco apertado com as leituras do mestrado e ainda fui atingindo em cheio por...

Não, não foi o tornado, e sim uma gripe com garganta inflamada. Tudo sob controle, mas dá preguiça até de ligar o computador.

Bom, para não passar em branco, semana passada fomos patinar. Muito divertido, conto os detalhes depois. Espero o o vídeo funcione, sou mestre em apanhar dessas coisas muito 'muuudernas'!!!!

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Cadeia alimentar



Como já disse, plantei uma árvore e tenho uma filha. Falta-me o livro. Na postagem de ontem um engracadinho deixou um comentário vaticinando que morrerei em Feira de Santana. Foi o estopim, hoje a morte não me sai da cabeça. Pior do que morrer em Feira de Santana é deixar uma das três obrigações em aberto. Assim, sou forçado a reconhecer minha incompetência linguística para digitar algo que preste e parto para a opção de mercado: manuais.

Decidi organizar um manual para cozinheiros de emergência. Não tem nome ainda, sugestões são bem-vindas, mas pensei em fazer algo como um dicionário para revelar as grandes verdades da cozinha que mães e esposas sempre nos esconderam. Vamos às primeiras entradas:

CHÃO Te garanto que nem tudo que cai no chão da cozinha precisa necessariamente ir para o lixo. Se houver gente com você, cate os alimentos frescos e in natura, lave e utilize. Caso seja comida pronta, peça ajuda para recolher e jogar fora. Se estiver sozinho na cozinha, tudo que for ao chão volta para a mesa.

CREME DE LEITE Ao contrário do leite condensado, só tem utilidade na cozinha mesmo, no entanto, exige maestria. Revelo que o creme de leite, por conter leite, sobe ao chegar ao ponto de ebulição (ah, Marilúcia...). Portanto, jamais deixe o molho da macarronada no fogo e vá ler o último lançamento da Francine Prose. Você terá a atenção despertada por um chiado chatíssimo de líquido quente derramado sobre o fugão.

RELÓGIO O tempo é o melhor aliado de um cozinheiro de emergência. Faça tudo para descobrir o horário da última refeição de quem você vai alimentar. A informação é crucial. De posse dela, só sirva o que preparou ao menos cinco horas depois. E nada de lanchinho entre as refeições.

MIOJO Esqueça o miojo, isso é coisa de estudante-que-mora-em-quartinho-alugado-nos-fundos. Lhe apresento algo inovador: macaroni and cheese! Mais fácil de fazer, mais rápido e não tem aquele pozinho chato. O gosto é o mesmo.

MOLHOS Tenha à mão todos os molhos prontos que sua mesada conseguir comprar. Em geral, eles encobrem com perfeição qualquer deslize.

CÃO SEM DONO Nunca faça cara de paisagem quando a comida ficar ruim. Você errou, assuma. Faça cara de desempregado-no-estrangeiro-que-lavou-passou-varreu-e-fez-comida-mas-errou-a-mão. Isso vai lhe garantir (a) Jantar no melhor restaurante da cidade (b) Declaração de amor incondicional (c) Sexo na cozinha (d) Todas as respostas anteriores.

FOGÃO Cuidado! Saiba que o fogão elétrico permanece quente depois de desligado. O melhor fogão é a gás, desde que você viva na Bolívia. Se optar pelo elétrico e morar em Brasília, adianto que ele não vai funcionar durante a chuva.

PASTA DE DENTE O armário sobre o fogão é o melhor local para guardar a pasta de dente, principalmente se o fogão for elétrico.

PASTA DE DENTE DE FRESCO Se sua mulher insiste em usar aquelas pastas com menta, hortelã ou qualquer outra coisa que dê, apenas na boca, sensação de frescor, guarde-a no banheiro.

ANIMAIS Quem cria animais domésticos, especialmente cães e gatos, jamais deve deixar qualquer alimento sobre a bancada da cozinha. A dica vale especialmente para salmão, se você tiver um lindo gatinho. Se flagrar o bichano lambendo salmão (pelamordedeus, não há qualquer conotação de zooerastia aqui) está obrigado a jogar o peixe fora, caso esteja acompanhado. Mas se estiver sozinho...

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Quem é o cantor?


Recebi hoje esta foto por e-mail. 'Chega de saudade'. É o título da mensagem. Acompanhando a imagem, o texto: 'olá. para vocês começarem a chorar de saudades'.

O sádico remetente, poeta de profissão, bancário por necessidade e professor por conveniência, é ou foi fotógrafo nas horas vagas, não sei se acompanhou a digitalização. A lente que captou a cena, disso tenho certeza, ainda existe. Virou herança antecipada. Já os livros e os quadros ele insiste em não dividir em vida, prefere assistir a briga olhando para cima ou para baixo - façam suas apostas.

Pois estão retratados aí cinco primos. Onde? Feira de Santana, claro! Rua Rio Grande, no Conjunto Maria Quitéria. Quem estiver a caminho de Salvador e passar por aquelas bandas há de encontrar três casas de minha família na Rua Rio Grande. Numa delas, que ainda pertence a seu Fernando e dona Nilma, passei boa parte da infância.

Dizer que esta foi a última vez que este quinteto esteve junto é um tremendo exagero. No entanto, realmente não tenho a mínima idéia de quando foi a reunião mais recente. Creio que há mais tempo do que deveria. Hoje, apenas um permanece em Feira. Há gente em Salvador, há gente em São Paulo, há gente nos Estados Unidos e há gente no Japão. Pensando melhor, acho que dois estão de volta a Feira. Sim, de volta, por que já sairam. Sair da Princesinha do Sertão é algo que todo feirense deveria fazer. Já voltar...

Ao falso bancário digo que nunca declarei no IR aquele depósito. O imposto a restituir seria incalculável.

Saudades,

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Quase-emprego

Olá, pessoas!

Como disse, minha memória me trai de vez em sempre. A Isa puxa minha orelha: quando saímos de Paracatu (lua-de-mel na oficina, lembra?) seguimos para as cidades históricas de Minas e uma nova mangueira do Chevette estourou em João Pinheiro, não em Presidente Olegário. PO fica mais ao sul do estado e nem é caminho para Ouro Preto.

A Isa é como meu drive externo, então estava arquivada nela, e não na minha CPU, essa informação, acrescida do fato de que em JP até visitamos uns parentes dela. Por conta própria acrescento que Presidente Olegário é a cidade do pai e dos tios da Isa. Aliás, já até estive lá em uma viagem de fim-de-semana com seu Isaías e a Florzinha para o aniversário de 70 anos do tio Ângelo. A Isa não foi porque trabalhava no sábado. (Tá tudo certinho, Isinha?!?!?!)

Bom, hoje consegui meu quase-primeiro-emprego-na-terra-do-tio-sam. O pessoal da Energizer me ligou, achei até que tinha sido desqualificado, porque fiz o processo seletivo há umas duas semanas ou mais. Bom, mas a mocinha me ligou, só que a tal da autorização de trabalho ainda está em processamento, ou seja, não foi desta vez que virei operário. Será que tem de usar macacão? Já me vejo com um macacão cinza com uma pilha impressa nas costas e uma flanela suja de graxa no bolso de trás. A mocinha disse que as vagas não são raras e solicitou que, quando a autorização chegar, eu entre em contato para saber de novas oportunidades.

Levei até um susto quando o telefone tocou e não era a Isa. Como ainda não tenho dívidas por aqui, cobrador não poderia ser. Meu medo é o Visa!

Beijos e saudades,

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

FS em NY



Quinhentos e vinte e oito dólares.
Foi o que gastei para passar três dias em Nova Iorque no padrão estudante. Três dias e duas noites, para usar a linguagem das agências de turismo. E é o preço final, incluindo passagens, presentes para Isa e Marisa e até o combustível que gastei para dirigir até o aeroporto, além do valor pago para deixar o carro três dias no estacionamento.
Os latinos por estas bandas, e tem latino para encher uns cinco paraguais só aqui na Carolina do Norte, adoram contar vantagem das barganhas, das compras baratíssimas feitas em lojas de usados ou na meca das cidades de interior, o Wal-Mart. Wal-Mart: Save Money, Live Better!
Então, é minha vez de contar vantagem. Na condição de desempregado não tenho feito muitas compras, me resta a ida a Nova Iorque. Depois do mestrado, que já me consumiu US$ 2.155, a viagem foi de longe a maior despesa que fiz com o meu envelopinho de trevelers cheques. São os mesmos que deixei sobre o balcão da US Airwails e que me custaram algumas dezenas de dólares em recompensa por reavê-los. Recompensa em espécie, claro, porque honestidade não se paga com cheque de viagem. Tentei pagar a gratificação com MasterCard, mas honestidade não tem preço.
Uma viagem no padrão estudante muda já na chegada ao aeroporto-destino. O normal é pegar um táxi ou deixar um motorista acertado anteriormente com quem lhe vendeu as passagens. Pois peguei um ônibus e um metrô para ir do Aeroporto La Guardia a Manhattan. Moleza. Duro foi a Isa me ligando de cinco em cinco minutos. "Fico preocupada, um moço de Feira de Santana sozinho em um lugar do tamanho de Nova Iorque...". Uma vez tabaréu, sempre tabaréu. Como diz uma amiga de Brasília, que aliás nunca me responde os e-mails, eu saí de Feira de Santana, mas Feira de Santana não saiu de mim. A frase deve ter algum significado secreto que até hoje não consegui entender.
Tento evitar Feira de Santana, mas como já falei dela, resta-me revelar que FS está em sintonia com NY, a cidade tida como a mais cosmopolita do mundo. Tem coisas que realmente nos surpreendem. Encontrar uma rua pavimentada com pedras de calçamento em Nova Iorque, por exemplo. Boa parte de Feira tem estas malditas pedras nas ruas. Já dirigiu em rua de calçamento? Parece que você está montado numa britadeira. Pois em Nova Iorque tem uma rua de calçamento. Não é uma quadra ou um bairro, apenas 200 metros. Uma rua no meio de uma cidade-monstro. Como Feira de Santana, perdida no meio do mundo.

Beijos e saudades (exceto de Feira, claro),

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

O outro lado da cerca

Olá, pessoas!

Algumas semanas antes de vir para cá fui com um grupo de amigos a um show do Paralamas e Titãs em Brasília. Não lembro o nome do lugar, mas é um galpão sem qualquer acústica perto da Vila Planalto. Bom, antes de dizer o que realmente interessa, lembrei que naquele dia eu fui o tal 'amigo da vez'. Tinha uma blitz na L2 e fiz o retorno três vezes, mas os PMs foram incapazes de me parar. Tenho certeza que no dia que eu tomar meio Martini vou preso. Ser amigo da vez não é a marivilha que pensei, tive de pagar o ingresso - mais, antes fui até lá comprar as entradas de todo o grupo - e só me serviram água. Minto, o sanduíche depois no Sky's também foi por conta dos bêbados. Passei na Blitz antes e depois do Sky's, nada de bafômetro. Ao todo, foram SEIS tentativas frustadíssimas de ser parado. Queria muito ter sido aprovado no teste. Esses meus quatro amigos estariam no meu bolso para o resto da vida...

Ingresso. Era disso que eu queria falar. Estávamos no camarote, uma das maravilhas da vida pequeno-burguesa que em geral passa a ser possível em algum ano próximo ao trigéssimo. Como só eu estava sóbrio, tive tempo de sobra para divagar. Uma cerca de 1,20 metro separava a área do camarote do 'resto' da platéia. Lembrei das tantas e tantas vezes em que estive do outro lado. "Então, é assim estar no camarote?!". Posso, como sempre, estar enganado, mas na minha época do outro lado o camarote era lateral. Quem pagava o ingresso simples conseguia chegar perto do palco. Agora, quem não tem tanto dinheiro (mesmo as entradas mais baratas são caras demais) fica a dezenas de metros do palco.

A novidade é que estou novamente do lado de lá. Aqui nos Estados Unidos fui empurrado de volta. Não dá para entrar em camarote sem carteira de trabalho. Muito menos vivendo do salário da esposa. E foi de novo como estudante que voltei a Nova Iorque. E, já adianto, foram três dias muitíssimo divertidos.

Conheci NY em 95, ano que eu e Isa casamos. Não, não foi lua-de-mel. Casamos em janeiro, viajamos em dezembro. Nossa lua-de-mel foi, ou melhor, ia ser, nas cidades históricas de Minas.
Vale a pena abrir o parêntese.

Casamos sem um puto no bolso, Isa estudava Economia na UDF e dava duzentas mil aulas de inglês por dia; eu fazia três estágios: manhã, tarde e madrugada. Faculdade à noite. Claro, não tínhamos carro. Mas temos eu e Isinha a sorte de compartilhar o gosto por coisas antigas, que venham com história (essa é a desculpa mais chique para termos o apartamento de Asheboro inteiro montado com móveis usados, digo, 'com história' - parêntese dentro do parêntese? Devia ter usado colchete).

Assim, decidimos passar a lua-de-mel nas cidades históricas de Minas. Ouro Preto, Mariana, etc, etc, etc. Sem roteiro definido, nada de hotéis agendados ou programas marcados. Aonde desse vontade de ficar, a gente achava algum lugar dentro do orçamento. Como é bom ter 20 anos!!! Bom, destino escolhido, faltava o meio de transporte. Conseguimos emprestado da irmã da Isa um Chevette 1989. Era 95, um carro de seis anos está em plenas condições de uso. Era o que imaginávamos...

Eu era tão duro que não tinha dinheiro nem para tirar a carteira de motorista, então, só a Isa dirigia. Passamos a primeira noite no Hotel Bonaparte e saímos no meio da manhã rumo a Minas. Lá pelas tantas começou a sair fumaça do motor do carro. Meio do nada antes de Paracatu. Só nos restou pedir carona. Parou uma família bem simpática de BH, tempos depois até os reencontramos na fila para o visto na Embaixada dos Estados Unidos. O Brasil, como todo norte-americano sabe, é uma ilha.

Retomo. Carona até Paracatu, conseguir um guinho em pleno domingo, voltar até o Chevette, trazê-lo até a porta da primeira oficina e morrer em R$ 80. Como disse, era domingo, oficina fechada. Fizemos uma estravagância: nos hospedamos no melhor hotel de Paracatu. Tinha até ar-condicionado. Manhã de segunda, esperamos a oficina abrir.

A oficina era do seu fulano, mas seu fulano estava quase cego e o filho do seu fulano fazia as coisas, sob ordens enfáticas do seu fulano. Diagnóstico: retífica. O termostato estava quebrado e o cabeço rachou. Não sabia o que isso significava, mas me pareceu grave. Tudo por causa de uma mangueirinha de nada que ressecou e jogou toda a água fora. Pensei que o carro era movido a gasolina, e não a água.

Seu fulano adorava jogar damas e nunca tinha perdido uma partida para qualquer um dos paracatuenses. Isa se oferece para jogar com ele. "Isinha, deixa o velho em paz, ele é o dono da oficina, trabalha muito, deve estar cansado". "Sente, minha filha". "Isinha, deixa o velho em paz". O diabo da mulher é teimosa. Pior, sabe jogar damas! Ganhou a porra do jogo. Seu fulano ficou puto da vida, colocou o tabuleiro debaixo do braço, as chapinhas de refrigente num copinho de alumínio e sumiu. Resultado do jogo: o conserto do carro levou três dias e custou R$ 800. OITOCENTOS reais em 1995, dava para ter comprado o Chevetti!!!!

Mas lua-de-mel é só festa. Catamos as moedas do troco e seguimos viagem. Ao chegar em Presidente Olegário, a cidade seguinte, outra mangueira do Chevetti estoura. Mas a boa notícia é que desta vez o termômetro avisou e paramos em tempo. Noite, dormir na cidade e esperar um loja abrir. Mangueira nova. Saímos de PO na manhã seguinte rumo a Brasília. Quanto mais longe, mais caro seria o guincho para nos levar de volta à capital!!!!

Fecha parêntese.

E tchau. Acabou o espaço, Nova Iorque fica para outro dia.

Beijos e saudades,