sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

cotas, contas, consciência, coitadinho...

Estou de volta! Vou dar notícias destas três semanas de ausência, mas hoje quero comentar um e-mail que está rodando por aí. O recebi de duas pessoas. É um artigo do jurista Ives Gandra Martins com o título: ‘Você é branco...? Cuide-se!!!”.

Linhas gerais, o ‘Ives Gandra’ afirma que, como branco, sente-e discriminado por políticas em defesa de minorias como negros e índios. Dá como exemplo as cotas nos vestibulares. Diz que, se tiver a mesma nota de um negro no vestibular, pode perder a vaga apenas por ser branco, já que o concorrente seria beneficiado pelas cotas.

Pois bem, antes de ir adiante aviso que duvido que o Ives Gandra tenha escrito a mensagem. Parece-me muito mais um texto de um desses webpensadores que usam os nomes de gente como Jabor ou Veríssimo para divulgar suas idéias. Sem julgar o mérito das idéias, qualquer um tem o direito de defender a opinião que lhe convier, essas pessoas acreditam que sua mensagem vai ganhar força e repercussão se sairem do lápis de outro. E estão certas, ninguém vai encaminhar para sua lista de e-mail um texto de um reles Marcio Peixoto. O duro é cometer o crime de falsidade ideológica para fazer isso.

Bom, mas voltando ao coitadinho do branco. Sou branco. Espero que vocês ainda lembrem do meu rosto, do contrário a parte mais importante de mim está retratada à esquerda do texto. A Isa é mais branca que eu. A Florzinha parece leite. Tanto que quando preenchemos questionários socioculturais aqui é uma confusão, porque ficamos na dúvida entre optar por branco (raça) ou latino (origem). E garanto: se a Marisa tiver de perder sua vaga na UnB, UFBA ou – que seja poupada desta! – na UEFS, que seja para alguém beneficiado pela política de cotas.

O fato é que alguém que foi tratado de forma diferente a vida inteira não pode ser incluído no balaio de gato justo na hora de entrar na universidade ou no mercado de trabalho. É muito bonito um branco dizer que se sente discriminado pelas cotas, mas ele certamente não pensa em discriminação ao saber quantas famílias negras moram no Lago Sul ou quantas famílias brancas residem na Estrutural. E qual a proporção de brancos e negros nos presídios? E os números das vítimas de violência? E as médias salariais? E a ocupação de cargos de chefia?

É bem verdade que a discriminação afirmativa deveria ser social, e não racial, mas há tempo para fazer a mudança. E que a Marisa perca sim a sua vaga na universidade para alguém que teve uma vida muito mais dura que a dela. A Florizinha certamente vai passar as manhãs do ano seguinte dirigindo o carro próprio para o cursinho. À tarde vai estudar em uma biblioteca ou com os amigos no conforto de sua casa. À noite vai pegar um cineminha com o namorado para relaxar, talvez vá até ao motel. E o que acontece quando um jovem negro e pobre não passa no vestibular?

Um comentário:

Anônimo disse...

pô Marcio ta com saudades das noticias . que bom que agora voce ta trabalhando agora voce pode comprar o Nintendio Wii

Abraços

Daniel, Solano