terça-feira, 30 de dezembro de 2008

É o bicho

Segunda-feira de plena folga. Como Isa e Marisa estão em recesso e o inverno deu um tempo ontem, a temperatura máxima foi de 18 graus, resolvemos ir ao zoológico. Hoje o frio voltou e estamos a dois graus.

Asheboro é famosa porque aqui fica o zôo estadual da Carolina do Norte. Vez ou outra aparece um turista para conhecer o Whilem, o urso polar que era vítima de maus-tratos em um circo e agora vive por aqui. Muito simpático o camarada, embora ontem estivesse sob efeito de medicamentos. É, o urso tava doidão. Mas o ácido que ele tomou, infelizmente, o deixou lesado e não elétrico. Segundo a Isa, na vez anterior em que visitou o zoológico o urso, o bichinho teve o nome estrageiro traduzido para Willy, estava brincando o tempo todo, nadando, etc etc. Mas nessa segunda ele ficou morgado o tempo todo. Diz a Isa, com uma maldade desnecessária e um coração impuro, que Whilem estava em clima de baiano.

Duro foi carregar a Marisa de um lado para o outro. Alguém precisa dizer a esta mocinha que quem usa o primeiro Valisère não pode ficar pedindo colo!!! O peso é razoável, apenas 28 quilos, mas o tamanho da mercadoria torna a missão difícil. O jeito é levá-la nas costas como uma macaquinha ou no pescoço, transformando o conjunto numa espécie de girafa de duas cabeças (veja as fotos à esquerda).

Ah, e tivemos a sorte de ver os leões marinhos e as focas sendo alimentados (confira no vídeo)

Beijos e saudades,

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

35 (ops, era segredo...)



Olá pessoas!

Confiram à esquerda as fotos da festa de aniversário da senhora Isabelita Solano Mendes Peixoto.

Ela espalha que fez 30, mas como eu coloquei as velas no bolo lá estão uma para cada ano.

Por falar em Isa, ela está em recesso de inverno. Quinze dias. Só volta a trabalhar em 5 de janeiro. Marisa idem. Como eu estou trabalhando, elas estão em casa comigo. Devem viajar por dois ou três dias no fim-de-semana, mas eu fico porque minha escala no mercado do Wal quase sempre inclui o sábado e o domingo.

Isinha fez 35, eu a conheço desde os 15. Quinze dela, 15 meus. Mas ela era absolutamente chata naquela época. A conheci por meio de um amigo em comum que insistia em gostar muito da Isa. Eu não a suportava. Desta época lembro de irmos à tarde de mobilete na casa da Isinha (eu de carona)e de um pote com batom Garoto em um jarro de vidro na cristaleira da sala. A mãe da Isa ainda mora na mesma casa.

Como disse, a garota era meio chatinha nestes tempos. Eu não tinha a menor paciência com ela e creio que a Isa sequer notava minha existência. Convivemos essa antipatia mútua por dois anos, quando ela deixou o Brasil para fazer o terceiro ano do segundo grau aqui na terra-da-galinha-que-põe-ovo-em-caixa. Morou bem mais para cima, na Dakota do Sul, quase Canadá. Mas como estava em intercâmbio pelo Rotary teve a chance de viajar o país inteiro de ônibus por 40 dias. O famoso roteiro coast to coast.

Da viagem, a Isa voltou outra pessoa. Literalmente. Como disse o namorado de antes da partida, foi uma, voltaram duas. Vinte quilos em 12 meses. Com esse comentário delicado, o namoro não tinha como continuar.

A história é longa, 20 anos, não dá para contar de uma vez só!

Beijos e saudades,

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Fora das estatísticas (ou 6,5% - 1)

Pessoas amadas!

Durou pouco a minha vida de desempregado. Foram pouquíssimos dias, cerca de dez, entre a minha efetiva autorização para trabalhar e o início da labuta, em 25 de novembro.

O emprego não poderia ser melhor. Agora não preciso ser enterrado para que a Isa me visite, porque ainda vivo passo parte dos meus dias no Wal-Mart. Se eu acreditasse, diria que é coisa do destino. Como acho muito aborrecido imaginar que tudo que vai me acontecer já está escrito, vejo o emprego no mercado do Wal como uma vitória. Pequena, é verdade, e também temporária. Fui contratado por apenas três meses.

O fato é que me inscrevi para diversas oportunidades de emprego, mas apenas no Wal-Mart fiz tudo absolutamente sozinho. Foi a única coisa aqui na terra do bidê automático que resolvi sem ajuda da Isa, preenchi a ficha, respondi ao detalhado questionário em inglês, fui lá (é em outra cidade), participei do processo seletivo. E fui escolhido. Precisava disto. A sensação de constante dependência não é lá muito agradável. Mesmo sabendo que se for para depender de alguém eu só poderia escolher a Isinha, ter o ato da dependência como uma constante da equação embaralha a minha já frágil percepção do mundo. Eu estava me acostumando.

Essa é a primeira constatação. A segunda: que mulher do pé frio da porra!!!!!

Beijos e saudades,

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

cotas, contas, consciência, coitadinho...

Estou de volta! Vou dar notícias destas três semanas de ausência, mas hoje quero comentar um e-mail que está rodando por aí. O recebi de duas pessoas. É um artigo do jurista Ives Gandra Martins com o título: ‘Você é branco...? Cuide-se!!!”.

Linhas gerais, o ‘Ives Gandra’ afirma que, como branco, sente-e discriminado por políticas em defesa de minorias como negros e índios. Dá como exemplo as cotas nos vestibulares. Diz que, se tiver a mesma nota de um negro no vestibular, pode perder a vaga apenas por ser branco, já que o concorrente seria beneficiado pelas cotas.

Pois bem, antes de ir adiante aviso que duvido que o Ives Gandra tenha escrito a mensagem. Parece-me muito mais um texto de um desses webpensadores que usam os nomes de gente como Jabor ou Veríssimo para divulgar suas idéias. Sem julgar o mérito das idéias, qualquer um tem o direito de defender a opinião que lhe convier, essas pessoas acreditam que sua mensagem vai ganhar força e repercussão se sairem do lápis de outro. E estão certas, ninguém vai encaminhar para sua lista de e-mail um texto de um reles Marcio Peixoto. O duro é cometer o crime de falsidade ideológica para fazer isso.

Bom, mas voltando ao coitadinho do branco. Sou branco. Espero que vocês ainda lembrem do meu rosto, do contrário a parte mais importante de mim está retratada à esquerda do texto. A Isa é mais branca que eu. A Florzinha parece leite. Tanto que quando preenchemos questionários socioculturais aqui é uma confusão, porque ficamos na dúvida entre optar por branco (raça) ou latino (origem). E garanto: se a Marisa tiver de perder sua vaga na UnB, UFBA ou – que seja poupada desta! – na UEFS, que seja para alguém beneficiado pela política de cotas.

O fato é que alguém que foi tratado de forma diferente a vida inteira não pode ser incluído no balaio de gato justo na hora de entrar na universidade ou no mercado de trabalho. É muito bonito um branco dizer que se sente discriminado pelas cotas, mas ele certamente não pensa em discriminação ao saber quantas famílias negras moram no Lago Sul ou quantas famílias brancas residem na Estrutural. E qual a proporção de brancos e negros nos presídios? E os números das vítimas de violência? E as médias salariais? E a ocupação de cargos de chefia?

É bem verdade que a discriminação afirmativa deveria ser social, e não racial, mas há tempo para fazer a mudança. E que a Marisa perca sim a sua vaga na universidade para alguém que teve uma vida muito mais dura que a dela. A Florizinha certamente vai passar as manhãs do ano seguinte dirigindo o carro próprio para o cursinho. À tarde vai estudar em uma biblioteca ou com os amigos no conforto de sua casa. À noite vai pegar um cineminha com o namorado para relaxar, talvez vá até ao motel. E o que acontece quando um jovem negro e pobre não passa no vestibular?