quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Do dia em que estive na mira de um rifle


O tornado virou fichinha.

Minha segunda, e real, experiência de quase-morte nos Estados Unidos foi muito mais tensa do que o aviso de tornado de setembro. Nem deu tempo de maldizer as moças do Visa. Aliás, sobre Elas, a Isa sucumbiu, aceitou uma proposta e já circula pelos shoppings da Carolina do Norte com um cartão de crédito. O bom é que agora a fatura do cartão DELA não está em débito automático na MINHA conta bancária!!! Eu mantenho a decisão franciscana de desapego nesta aventura na terra do consumo. Fiz até a Isa devolver duas camisas que havia comprado para mim. Mas já estou fugindo ao tema. Quase-morte.

Foi exatamente há uma semana. Para entender é preciso retroceder mais um pouco. Marisa está, finalmente, sendo líder de torcida. Ela nos enche o saco com essa história há mais de um ano e agora conseguimos conciliar três agendas para permitir que a Pequena participe dos treinos nas noites de quinta-feira e dos jogos nas manhãs de sábado. E foi na noite da quinta passada.

A Isa tem aula de mestrado nas noites de quinta e é minha a função de levar, ajudar-a-arrumar-os-móveis-no-salão-da-igreja-onde-acontecem-os-treinos, assistir, torcer, pôr os móveis no lugar e trazer a Florizinha de volta para casa. Todo o processo leva cerca de duas horas. Em casa, ainda há a briga para tomar banho 'daqui a pouco'. Nesta, já virou hábito a Marisa não tomar banho às sextas-feiras. Tudo bem, puxou a mãe, né?

Pois bem, na semana passada eu tinha um compromisso inadiável na biblioteca, onde felizmente ainda consigo trabalhar como voluntário uma vez por semana, apesar das 32 horas de leite na prateleira do Wal-Mart, das 14 horas de aulas de inglês, das atividades domésticas, do mestrado, da vida social familiar e das funções matrimoniais. A ordem é inversa. A Pequena perderia o treino, justamente o último antes do primeiro jogo do campeonato. Convulsão social nesta pequena cidade do sul norte-americano. A celeuma foi tamanha que a treinadora se comprometeu a cuidar da Marisete e depois levá-la para sua casa, onde eu a buscaria.

Tudo combinado, endereço em mãos, claro, tive dificuldade para encontrar a casa. Aqui quase não há iluminação pública nas ruas (vou importar a equipe da SIP da CEB, vão fazer um estrago!). Quem quiser que ponha seu poste na porta de casa. E quase ninguém quer. Pois cheguei ao que achei ser o número certo e bati à porta. Eram pouco mais de nove da noite.

- Who is this?

- It's Marcio, Marisa's dad. I'm looking for English.

- What???

A porta foi aberta e dou de cara com um afro-americano de três metros de altura, voz de Heron Domingues, cara de nenhum amigo e, um detalhezinho de nada, um rifle em punhos.

- (puta-que-pariu-o-cara-tá-com-uma-espingarda-voltada-para-mim) ...English?

- No Spanish here, man!

- (será-que-está-carregada?Ele-está-com-o-dedo-no-gatilho) I'm looking for En-English...

- I told you, no Spanish here! No spanish here, this is America!

- (se-ele-atirar-ainda-vão-dizer-que-eu-queria-assaltar-a-casa) No, no, no Spanish. English, the name is English!

- SIR, I CANNOT SPEAK SPANISH!!!

- (o-Visa-que-eu-cancelei-tinha-seguro-de-vida-de-graça-e-eu-sempre-fui-tão-ríspido-com-aquelas-moças...) I can't speak Spanish either. I'm looking for English, English!

O nome da treinadora da Marisa é English. "Nice to meet you, Portuguese". A Isa riu, mas a English não gostou da piada. Na quinta-feira passada eu vi que não teve graça mesmo.

Beijos e saudades. Vou fazer aulas de espanhol.

Imagem: www.falconarmas.com.br

domingo, 1 de fevereiro de 2009

La boquita de la botella





Cronologia nunca foi meu forte e, portanto, aqui no Oraite o Ano Novo vem antes do Natal.

Passamos a virada do ano numa festa aqui no condomínio mesmo. Muito divertida, gente de boa parte das três Américas. O mais interessante foi perceber que talvez o Chavez não seja tão louco quanto parece e o Brasil tenha sim um quê de imperialista do sul. Para dar a dimensão da coisa, ouvimos na festa "La boquita de la botella". É isso mesmo, o povo dança na boquinha da garrafa em espanhol. Também ouvimos umas versões latinas da Xuxa e as pessoas sabem detalhes da vida do Roberto Carlos, e nem sempre detalhes tão pequenos.

Mas o melhor de tudo foi o meu fim de festa. Sem que a Isa percebesse, acabei a noite com duas no sofá!!!!

Beijos e saudades,