terça-feira, 26 de maio de 2009

Facebook, Twitter e outros



Semana passada foi recorde.

Recebi dois convites para o Twitter, quatro para o Facebook e um para aderir ao UNYK. Esse último não faço a mínima idéia do que seja.

Eu acho o máximo receber os convites. É prova de que ainda lembram de mim. Sim, porque o blog é o meio de comunicação mais falho que existe. A informação só vai, não tem feedback. Ou melhor, de vez em quando alguém põe um comentário, mas como o Oraite peca por liberdade (é aberto, sem moderação, sem contador, permite comentário anônimo) não tenho como saber quem manda a mensagem e sequer se alguém o lê. A não-resposta me consome. Fico com medo de estar perdendo tempo de estudo do mestrado para escrever aqui e ninguém ler. Mas isso é assunto para o divã da dona Isabelita. Consultas das 23h30 à meia noite. Preço a combinar. Em geral, pago em serviço (doméstico, não sexual como você pensou).

Os convites. Recebo-os todos com carinho, mas nunca aceito. O que não entendem é que eu só fisicamente estou na primeira década do século 21. Minha mente está lá, parada e pairando na década de 80. Antes até, nos anos 60. Eu tenho de confessar que até hoje não comprei a ida do homem à lua. Meu cunhado na adolescência fazia uns videozinhos com uma câmera JVC super peba tão ruins quanto aquele. De mais a mais, vê lá se Neil Armstrong é nome de astronauta? Se o Neil Armstrong tivesse participado da mítica formação que gravou Kind of Blue teria meu crédito. É uma boa alcunha para um pioneiro do Jazz, mas jamais para alguém que seria o primeiro a pisar na lua. Aliás, eu mesmo já pisei na Lua diversas vezes, sem querer, registre-se. É uma cadelinha poodle que seu Fernando e dona Nilma paparicam em um dois quartos com reversível na Nossa Senhora da Saúde. Foi comprada por mim e meu irmão há uns 15 anos. A gente queria uma poodle branca para presentear mainha. Vimos os anúncios do A Tarde e fomos até a casa da dona-me-esquece ver a ninhada. Era uma casa na Pituba, se não me engano. Na época, Pituba era em Salvador um bairro de gente honesta e distinta. Lindos todos os filhotes, mas eram meio amarelados. Dona-me-esquece, doida para se livrar dos 214 cagões, garantiu: é só a primeira penugem, depois ela vai ficar branquinha, branquinha. E está lá a Lua tão branca quanto o cavalo de Napoleão.

Eu sou fã de tecnologia, só não consigo acompanhá-la. Até entrei no Orkut uma vez. Durou uma semana. Na época eu dava aulas em faculdade e se um professor quer perder a privacidade basta oferecer uma ferramenta virtual de comunicação a alunos na casa dos 20 anos. Levei dois meses para conseguir o orkuticídio. Esse sites são ótimos para te aceitar, mas não querem te deixar sair por nada. Tecnologicamente eu estou na era do fax. Que aparelho fantástico, que invenção maravilhosa. O cara que inventou o fax tinha de ganhar o Nobel, ser nomeado Sir pela rainha, jantar com o Barackão, churrasco com o Lula, pudim de leite na casa de vovó Maria. E-mail é fácil, não existe fisicamente. Mas o fax, pense bem, o fax! Eu penso no fax e fico deslumbrado. Você manda um papel daqui e ele se materializa do outro lado. Em qualquer lado, dá para mandar um fax até para Feira de Santana, onde até hoje o gerador movido a querosene é desligado às 22h00. E você ainda fica com o original, ou seja, o fax transmite e duplica a mensagem. Para mim, parou no fax. Tudo que veio ou vier depois perdeu o sentimento de novo.

Quer me irritar? Me manda uma mensagem de texto no celular que exija uma resposta. C-A-R-A-L-H-O, como é que alguém consegue escrever no celular? O meu telefone é moderno. Tem cartão de memória, toca MP3, tira fotos com qualidade e o diabo aquático. Ganhei no dia em que desembarquei na terra-da-galinha-que-põe-ovo-em-caixa. Eu fiz curso de datilografia em máquina manual lá na Comercial Norte de Taguatinga, no Sarmento, pelamordedeus, como é que eu vou digitar mensagem em telefone? É como escrever à máquina só com dois dedos, porque com os outros você tem de segurar a Remington. Você já tentou datilografar com os dois polegares? Faça a imagem mental, porque é essa a sensação toda vez que tenho de responder a uma mensagem de texto.

Tenho aqui uma amiga alemã. Nos conhecemos no curso de inglês, que acabou no começo deste mês. Na minha turma nosso país já está no primeiro mundo. Brasil, Suécia e Alemanha formavam um trio que mais perturbava as aulas do que estudava. Ao menos éramos obrigados a falar inglês, então, objetivo cumprido. Mexicanos também se agruparam, latinos em geral formaram seu coletivo assim como os não-acidentais, exceção para os vietmanitas, que ficaram juntos em um quinto grupo. Como entrei no curso depois de 10 dias de iniciado e ainda cheguei atrasado na primeira aula, dei uma escaneada geral e percebi as panelas já montadas. Fiz a opção que me pareceu mais sensata: sentei ao lado da mulher mais bonita. Era a Alemanha de Claudia Schiffer.

O fato é que virei conselheiro da alemanzinha. Ela mal completou 20 anos e quando perguntou quantos anos eu tinha fui logo dizendo "tenho idade para ser seu pai". Pingo no i que eu sou casado e a patroa lê o Oraite. Pois sim, ela me pede dicas nas abordagens aos rapazolas daqui, mas sempre via texto de celular. Caramba. Ela me manda uma pergunta. Eu tô tentando terminar a segunda palavra da resposta, letra por letra, cada tecla tem várias opções de letras - fora os números e outros símbolos, uma novela. Chega outra mensagem. Quando eu consigo terminar uma frase inteira já tem mais quatro perguntas! Envio a resposta e, acreditem, em 30 segundos chega a resposta com mais de 20 palavras. E umas abreviações loucas que eu tive de entrar no Google para entender. Eu levei oito minutos para digitar cinco palavras... Desisto e disco para ela. Meu celular é tão moderno que até faz ligações.

Beijos e saudades,

Imagem: ufoportugal.blogspot.com

segunda-feira, 25 de maio de 2009

O frentista, o médico e o Pannunzio



Olá pessoas,

Quando começei a postar no Oraite tomei a decisão de não citar terceiros, apenas o G10 - Isa, Marisa, seu Fernando, dona Nilma, Teo, Lu e Vitão, Lore, Alice e Vini. Ah, vá lá, G11, porque tem o Gato. Bom, algo que aprendi aqui na terra-da-descarga-eletrônica foi a morrer de medo de ser processado e, como entre os defeitos de um blog aberto como o Oraite, está o de ser lido por quem quiser, resolvi evitar citações a terceiros para poupar desagrados e desagravos.

É o medo de processo que faz, por exemplo, os médicos daqui cada vez mais distantes dos pacientes. O doutor faz de tudo para seque tocar nos pacientes durante as consultas - medir pressão e exames afins são feitos por enfermeiros e antes da entrada do médico, que recebe tudo na tela do computador. Se o médico precisa ver o paciente sem roupas uma enfermeira é chamada para acompanhar o procedimento. E é essa a maior revolta da Isa, frequentadora assídua de consultórios norte-americanos.

Isinha teve de desenvolver uma nova tara aqui e escolheu os médicos. A fixação oficial é frentista. Quanto a gente viaja de carro no Brasil ela não pode ver um posto que me ordena abastecer. Meu bem, mas a gente só gastou 1/4 do tanque. Não tem problema, amor, é sempre mais seguro andar com o tanque cheio.

Aqui não há frentista, os postos, como tudo, são do tipo faça você mesmo, é a sociedade do sozinho vencerei. É por isso que a Isinha sempre me pede para abastecer, mesmo quando estamos no carro dela. Lá vou eu, desco e fico com aquela mangueira enorme na mão. Só que enfiar a mangueira no tanque da Isa não é tão simples. Se ela não deixar, a portinha nem é aberta e fico eu lá com a mangueira na mão pedindo, libera o tanque, libera o tanque. Depois de meia hora fazendo doce, ele permite. Ponho a mangueira no tanque e começo a abastecer. Tá bom esse tanto? Não, não, pode pôr mais. Tem certeza? Tenho sim, vai botando, vai botando. E agora, já deu? Não, põe mais, põe tudo, enche até a tampa.

Pois sim, acontece que eu fui citado em outro blog, e sou obrigado a falar de um terceiro. Fábio Pannunzio. Exijo meu direito de resposta. Como no Brasil o Supremo revogou a Lei de Imprensa, vou fazer uso da minha prerrogativa de viver temporariamente sob o guarda-chuva da First Amendment, que me garante pleno freedom of speech. Freedom é a palavra mais sagrada do dicionário norte-americano. Eles enchem o peito para falar da 'nossa liberdade'.

Fábio achou por bem, correndo o risco de danificar a imagem pública de repórter investigativo, republicar alguns textos do Oraite em seu blog (visite: www.pannunzio.com.br). Fábio, para quem tem memória curta, é autor de belos trabalhos do jornalismo brasileiro, como localizar a Jorgina do INSS e detalhar por onde andou o PC Farias quando fugiu do Brasil. A reportagem que mais me agrada é uma da década de 90, quando Pannunzio, apurando a máfia da grilagem em Brasília, conseguiu registrar a área da Esplanda dos Ministérios para venda.

Visite o blog do Fábio aqui.

Beijos e saudades,

Imagem: pecademissaoevatrabalhar.files.wordpress.com

Feriado é dia de...



Hoje é feriado por aqui. Memorial Day. Dia de lembrar dos mortos em guerras, aqueles que "fizeram o sacrifício maior lutando pela nossa liberdade". Há também, em novembro, o Veterans Day, para aqueles que também brigaram pela "nossa liberdade" mas foram sortudos o suficiente para retornar fora do caixão.

Eu não entendia a necessidade de dois feriados para o mesmo tema até compreender que a intenção do Veterans Day é levantar o astral dos ex-combatentes. Sim, porque voltar vivo da guerra é quase um fracasso. O bom mesmo é morrer lutando pela "nossa liberdade". O sonho de todo veterano era ser comemorado no Memorial Day.

No mercado do Wal de vez em quanto me deparo com um veterano. Há dois tipos. Em um grupo estão as pessoas que geralmente se comunicam, perguntam alguma coisa e puxam papo. Normalmente estão bem vestidas e foram oficiais em alguma guerra - embora todos os veterenos que tenham me perguntado onde fica o cool whip tenham ido às vias de fato apenas com os vietnamitas. No outro grupo estão senhores quase maltrapilhos, sempre com barba por fazer, roupas por lavar e alguns adereços militares pendendo de jaquetas mais que surradas. Quase não falam e nas poucas vezes que me dirigem a palavra é para reclamar do preço. Quando percebem que sou estrangeiro, cortam o assunto e seguem adiante.

Os do primeiro grupo sempre perguntam de onde sou ou tentam advinhar - em geral chutam que sou francês ou alemão. Já fui taxado de francês três vezes e de alemão, duas. Dois deles até já estiveram no Brasil e amaram, mas ficaram assustados com a pobreza nas ruas. Ambos acompanham o Brasil de hoje e se disseram impressionado com as mudanças dos últimos 10 ou 15 anos. Um até falou 'a América precisa tomar cuidado com o Brasil'. Uma declaração de sentido duplo que, vinda de um veterano de guerra, me fez quase mijar nas calças. Vamos ser invadidos a qualquer hora.

De volta ao Memorial Day. O que fazer no feriado. Os cemitérios ficam lotados e em todos os túmulos de militares há bandeirinhas do país. Às 3 da tarde acontece um momento especial de lembrança, uma espécie de prece coletiva. Mas ir ao cemitério é apenas o plano C, na prática, como o feriado é sempre numa segunda-feira e estamos na primavera, vai todo mundo aproveitar o feriadão. Curtir o dia é o plano B.

O que realmente se faz no Memorial Day, o verdadeiro plano A, é, vejam só, compras. Sim, compras. Todos os meios de comunicação passaram a última semana bombardeando os possíveis compradores com as ofertas que vão acontecer exclusivamente neste feriado. Hoje você pode, por exemplo, comprar uma cama com 15 anos de garantia e fazer o primeiro pagamento apenas em 2011. E sem juros, viu?

A febre do consumo é tamanha que séries e mais séries de cupons são produzidos com validade exclusiva para o Memorial Day. A Isinha, claro, já tem o dela. Como já disse, os cupons te fazem escravo, você está obrigado a comprar. A Isa fez umas contas mirabolantes - eu não entendi porra nenhuma, mas ela jura que vai ser isso mesmo - e vai comprar produtos na Bath and Bady Works no valor de US$ 73, mas só vai pagar US$ 31,50 graças às promoções do dia e ao cupom do Memorial Day. Vai à loja com a lista em mãos. Vamos ter sabonetes para todos os usos e gostos, inclusive, acreditem, um específico para lavar pentelho - masculino e feminino.


Beijos e saudades,

imagem: www.soldiersperspective.us

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Gal Tang da Silva




Como diria meu sobrinho Vitão, o gato, como o tigre, é um felino e tem galas letláteis.

Marisa que o diga.

O último arranhãozinho foi na segunda-feira. Na noite da terça Marisa tinha uma apresentação musical na escola e a Isa foi procurada por diversas mães solidárias em relação ao fogo amigo do qual a Pequena fora vítima. Parêntese gramatical. Eu sempre achei que a terceira pessoa do singular do pretérito mais-que-perfeito de Ser pede um acento diferencial, por causa do fora, que por si só já pode ser advérbio, preposição, interjeição ou substantivo, ufa! Fora é o verdadeiro cinco em um. Aliás, seis em um, porque também é pretérito mais-que-perfeito de Ir. Que beleza de língua... Vai ver agora, com a reforma, o verbo ficou fôra. O medo é a língua ter mudado tanto que eu, na volta (apenas 13 meses!!!), tenha de correr atrás da vaga para Letras na Católica, que rejeitei por também ter passado para jornalismo. Fecha parênteses.

Marisa e o gato. Vou chamá-lo apenas de gato mesmo, apesar de ele já ter tido cinco ou seis nomes. Atualmente circula com uma coleirinha metalizada com o nome Tang, o telefone da Isa e o endereço aqui de casa. Casa não, o lugar que a gente mora nos EUA. Nossa Casa é aí. Minha idéia de deixá-lo vagar pela florestinha no verão foi por água abaixo. A Marisa gostou de dar liberdade ao felino, mas pegou com a mesada a plaquinha de identificação - "para o caso de ele se perder, né? Quem achar liga para a gente a a gente vai buscar". Merda.

Marisa e o Gato. Fica como Gato mesmo, porque se admitir o nome personaliza, se personalizar tem de gostar, se gostar tem de levar de volta para Casa. A dupla vive uma relação muito engraçada, de amor profundo com pitadas de pirraça. Aliás, a gente só pirraça quem ama. Que graça tem chatear a quem não importa?!?! É engraçado ver os dois se escondendo pelos cantos esperando a passagem do outro para dar o susto. Se está todo mundo lendo quietinho na sala, a Marisa dá um berro no bichano, que só falta grudar no teto. Se a Florzinha está em idas e vindas do quarto para sala para nos mostrar algo que está fazendo, o Gato estrategicamente se esconde no banheiro e pula nas pernas dela na passagem. Se o felino está confortavelmente deitado sob o edredon na cama, Marisa arranca a coberta com agilidade e dá um grito. Ele também não é bobo, se esconde sobre o armário da cozinha e quando Marisete vai beber água pula lá de cima, cai como se tivesse sido jogado de um avião, sem pára-quedas.

Bom mesmo é ver a dupla rolando no chão. Marisa fica agachada e fecha os braços ao redor das pernas, com joelhos e rosto no chão. O Gato fica tentando entrar no colo da mãe, uma comédia. Dá volta de um lado, vai para o outro, enfia a cabeça em um buraquinho aqui ou ali, sobe nas costas da Pequena, tenta pelos cabelos, nada. Uma bagunça eterna. Certa feita, ficou preso nas madeixas e tivemos de chamar o 911. Estamos aqui criando uma pequena Gal Costa ou Vanessa da Mata.

E na última segunda foi numa destas brincadeiras de chão que o Gato literalmente grudou no braço da Marisa. O estrago foi real, assim como o choro. Eu estava ao telefone e Isinha correu com a Pequena para a cozinha para os cuidados necessários, ou de praxe, e o Gato percebeu o que tinha feito. Coitado, ficou desesperado, enquanto a Isa lavava o braço com sabão, ele fazia carinho no pé da Marisa com a patinha. Já era tarde e pouco depois a Florzinha foi dormir, pois o Gato passou a noite toda com ela na cama. Ele em geral dorme em uma poltrona, a poltrona do Gato, mas eu acordei de madrugada para fazer xixi e ele ainda estava na cama, velando por ela. É uma figura esse Tang.

Beijos e saudades,

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Tabaréu também em inglês



Por mais que eu tente fugir, parece cada vez mais ter razão aquela amiga para quem eu sai de Feira, mas Feira não sai de mim. Me descubro feirense em inglês.

Outro dia, por conta da pesquisa do mestrado, fui à escola da Isa, onde também estuda a Marisa. A Florzinha nada tem a ver com a história, mas sou obrigado a tentar citá-la em todos os comentários porque uma amiga me chamou de pai desnaturado. Disse que nas mensagens que mandava daqui nunca falava da filhota, só da Isa. Taí o registro, viu, xará? Tudo passa pela Marisa, não há porque pensar o contrário. Bom, estava eu na escola, aliás, antes, o trabalho de mestrado é sobre um programa desenvolvido na Siler City Elementary que oferece aulas de ELS (inglês como segunda língua) aos pais dos alunos - a maioria de origem latina.

De volta à visita ao colégio. Fiz o que tinha de fazer e, ao seguir em direção à saída, pronunciei como despedida o baiol. Quem estava na sala respondeu, mas um professo amigo da Isa, também estrangeiro, começou a rir. "Ô, Isa, o Marcio agora tá falando que nem o povo daqui é?".

O baiol, por mais estranho que soe, significa 'bye you all', tchau para todo mundo. É que meu fraquíssimo inglês foi achado nas prateleiras do Walmart de uma cidadezinha do sul norte-americano, o que na prática significa dizer que sou caipira. Os sulistas falam tão caipirês que nem eles se entendem. Um colega do mercado do Wal foi ao Alabama e disse que penou para compreender o que as pessoas diziam. Se para ele, nascido e criado aqui, foi difícil, imagine a minha cara quando alguém pergunta onde fica o cool whip? Cu de quem, meu amigo?!?!?!?

Eu já fui amaldiçoado por um primo a voltar a viver em Feira. Disse-me que vou ficar rico, comprar as casas vizinhas à que cresci (continua sendo de seu Fernando e dona Nilma, como um pequeno aluguel), demolir tudo e construir um prédio.

É isso, sou agora um tabaréu pseudobilíngue. Só falta ficar rico e comprar dinamite.

Beijos e saudades,

Imagem: inblogs.com.br

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Marisa, sobrinha do tio e das tias



Está comprovado, Marisa é sobrinha de Téo, Lu e Lore.

Isa acaba de me ligar, são 11h22 e estava lavando a louça, tenho de sair às 12h31 para Walmartiar. Durante três dias desta semana a Flozinha fez o IOG, a prova estadual que mede o aprendizado dos alunos, é uma espécie de vestibular que não serve para nada e é aplicado a todas as crianças a partir dos oito, nove anos. Os moleques, nesta idade, têm de fazer provas de duas, três horas de duração. E a mesma prova é aplicada em todo o estado. Bom, deixa eu parar de criticar a prova standardizada (eu tenho N críticas a esse modelo de avaliação, e tenho discutido isto no mestrado, porque os EUA adaram vestir todo mundo com o mesmo terno) para aproveitar o momento: acaba de ser divulgado o resultado do IOG e a Florzinha, que no ano passado deve um resultado considerado excepcional porque ela não é falante nativa de inglês, foi considerada gênio.

A melhora padrão de um ano para outro é de cinco pontos, a Sobrinha dos que cresceram na Nossa Senhora da Saúde melhorou 15 pontos. Em leitura ela tirou a nota máxima, em matemática ela ficou a uma questão da nota máxima. Resumo: em toda o estado, eu disse em toda a Carolina do Norte, apenas 3% dos estudantes obtiveram um desempenho melhor que o dela. Se fosse no segundo grau, Marisa receberia uma carta pessoal do Obamão. Esta é uma sociedade do individual, sozinho você faz tudo e é melhor que os outros, e a Presidência envia cartas assinadas pelo cara de plantão na sala oval aos melhores estudantes de high school.

E fica a prova de DNA, Marisa puxou ao tio e às tias CDFs. Mas isso é outro assunto. A professora sugeriu (e como envolve dinheiro, é um tema que só a Isa pode decidir!) que Marisa seja levada à Books a Million, a livraria - de rede - local, para escolher o que quiser. Na terra do sozinho vencerei, todo cãozinho tem de ganhar um biscoito depois de buscar no canudo.

Beijos, saudades e só quem tem CDF pode comer prego.

Imagem: loiratodosdias.blogspot.com

quinta-feira, 14 de maio de 2009

terça-feira, 12 de maio de 2009

Bateu asas e voltou



A foto é da Marisa e resume o que se vive hoje nos Estados Unidos: uma nação boquiaberta diante do riso fácil do Presidente.

Marisa está de volta. Washington já é ontem, tanto passado que ela até visitou a tumba (confira à esquerda). Trouxe histórias para contar - teve até ônibus quebrado à noite, fotos e a câmera (ufa), dois lápis para a coleção pessoal e um par de camisetas para os pais. Mais, retornou com 70% doa recursos oferecidos pela Isinha para que ela aproveitasse os dias na capital. Inocente, ela entregou o dinheiro para mim, para que eu devolvesse à mãe. Graças à Marisete esta semana vou ao cinema e até pipoca vou comer! Não vai ser a primeira vez que a Florzinha me banca. Há duas semanas, estava eu ajudando como voluntário na Feira do Livro da escola quando a Pequena surge e me chama para comermos juntos. Lá fui eu todo feliz almoçar as porcarias que eles servem no colégio. Na hora de pagar, "pode deixar, papai. Moça, põe na minha conta, por favor". Vejam a minha situação, minha filhota de 11 anos me chama para almoçar e ainda paga a conta...

De cá, que permite um ângulo diferente ao daí, fico imaginando se o Presidente tem noção do tamanho da figura dele. Na foto, parece enorme, mas a imagem não é real. Obama virou gigante. É maior que a Casa Branca, que Washington, que toda a América - como aqui eles insistem em chamar o país, como se fossem os Estados Unidos o único do continente. Esse moço ganhou uma dimensão messiânica, o afago que ele faz na aluna da Siler City Elementary é em um mundo inteiro de minorias que se sente representado pelo Presidente. Barack não é Estados Unidos, Barack é México, é África.

E é isso que a mim mais me preocupa, e me permitam a mim o duplo pleonasmo. Qualquer um que chega ao poder na condição de salvador me deixa apreensivo. O roteiro não é novo, dá até para classificar como remake - eles também copiam histórias que nem terminaram, mas ao contrário da falta de criatividade hollywoodiana, agora o final é incerto.

Beijos e saudades,

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Vai um cupomzinho aí?



Os Estados Unidos podem ser definidos de várias formas, o país do fast food, a terra das oportunidades, a paixão pelos carros, a loucura para sempre comprar mais, a torcida fanática do basquete. No entanto, só morando aqui é que a gente descobre a verdade: este é o país dos cupons.

Tem cupom para tudo, para desconto no papel higiênico, para ganhar brinde na sorveteria, para baixar o preço do sabão em pó - que aqui é líquido, para dobrar o tamanho do seu hambúrger, para deixar a patroa mais ajeitada. E eles se reproduzem. Uma vez dentro do mundo dos cupons, você jamais sairá dele.

A Isa, que consegue bancar as próprias contas e ainda me dá uma mesada, habita o planeta cupom. Os que ela mais usa são da Bath & Bady Works, uma espécie de Avon que queria ser Victoria Secret. Funciona assim: você faz uma compra e recebe um cupom para sua próxima ida à loja. Desta forma, se você comprar US$ 30, recebe US$ 10 de desconto. Na melhor compra com cupons feita lá, no Natal, Isinha trouxe uns sabonetes de US$ 5 cada por US$ 1,80. Graças ao cupom, temos sabonete aqui em casa até 2014. Ou melhor, aqui em casa e aí em casa, porque vamos ter de voltar com as malas cheias de sabonete.

A coisa é tão bem feita que a Isa praticamente se vê obrigada a ir todos os meses à Bath & Body Works para aproveitar os descontos. Os cupons têm datas de validade, podem ser usados em um intervalo que varia de três a 15 dias, mas quase sempre no mês seguinte ao que você faz a compra. Camarada, quem inventou a Amway não ia deixar barato algo que parece de graça. Os cupons fazem a mercadoria girar e sempre levam gente às lojas, que acabam comprando mais do que queriam ou precisam.

No mercado do Walter eu vejo cenas hilárias de gente perdendo cinco, dez minutos para casar o produto com o cupom. É difícil achar o papelzinho certo, que em geral está em um bolo com dezenas ou centenas de outros. Claro, há os organizados, que têm pastinhas com os cupons catalogados e divididos por produtos os fabricantes. Alguns são revoltados, como o cara que tinha o cupom para comprar o ceral e ganhar o iogurte da mesma marca, mas nós não tínhamos o iogurte e ele queria que a gente parasse de vender também o ceral para não fazê-lo passar raiva. E há os solidários, esses são os que mais me divertem. Tem alguém olhando o produto X na prateleira e aquela senhora de boa alma chega e diz: "olha só, eu tenho um cupom para esse xampu, tá aqui, é seu". Na prática, de cupom em cupom há famílias que chegam a economizar 25% nas compras de mercado, já que os descontos são reais.

Ah, e não são só descontos, tem coisa de graça também. Ontem a Isa ganhou de uma professora um cupom para o novo prato do cardápio do KFC, Kentucky Fried Chicken - aqueles frangos fritos que não têm uma gota de colesterol, e sim litros. E lá fomos eu e ela para o KFC comer de graça. Mas sabe como é, né? Dá uma desconfiança... Eu perguntei "Isinha, será que vai ser de graça mesmo, tô com medo de passar vergonha com esse trem na mão...". Pois bem, quando eu abro a porta da lanchonete, candangos e baianos, tinha uma fila de 20 pessoas com os cupons na mão. Todo mundo querendo seu franguinho, com batatas e salada de repolho, de graça. O cupom - impresso a partir de um site - só valia para ontem. Até que estava bom, mas desta vez o cupom falhou, o FKC não faz parte de nossa lista de fast food.

sogra, unanimidade mundial



O Oraite vai voltar a ser rotina. Os quase dois meses de ausência são plenamente explicáveis: é exatamente o período que a mãe da Isinha passou aqui conosco. Mainha, que certamente é a melhor sogra do mundo, sempre me ensinou a guardar o silêncio se não houver nada de bom a ser dito. Foi melhor, então, manter o teclado no saco durante a estadia da Sogra.

Eu já disse que faço um curso de inglês no Community College? O nome é Advanced Writing and Conversation in English. Pois é, fiz uma prova de nivelamento e o computador, mais preocupado em olhar o cabo da nova impressora, me nivelou como adivancedi. Mas não era do meu nível adivancedi de inglês que eu queria falar, e sim sobre a sogra.

Como os 25.003 moradores de Asheboro têm uma vida social, noturna e cultural tão repleta de atividades e emoções que a cidade deveria se chamar Asheboring, eu decedi levar a Sogra para as aulas, que acontecem todas as manhãs das 09h30 às 12h30. Aliás, aconteciam. Hoje foi o último dia do curso de inverno. Vou saltar o curso de verão, já que a Florzinha vai ao Brasil aproveitarei para adiantar uma matéria no mestrado, e devo voltar no outono. Sou obrigado a abrir o parêntese. Como é diferente viver em um local com quatro estações. Tudo aqui acontece de acordo com a época do ano, desde o que você come ou veste, passando pelo quê está nas prateleiras no mercado do Walter até as piadas contadas pelos corredores e quantas vezes se faz sexo. Graças a Deus, o inverno já passou. É por isso que o povo se mata no frio, ninguém trepa. Fecha parênteses.

A sogra e o community college. A turma é uma loucura, tem gente de todos os continentes, de Butão à Suécia. Se as regras de crase mudaram com a reforma ortográfica, alguém por favor me avise. Do Brasil só eu mesmo. Antes de levar a sogra pedi autorização ao professor norte-americano e avisei aos colegas multinacionais. Eis aqui o maior aprendizado que tive no curso de adivancedi English: sogra é sogra em qualquer lugar do planeta. Eu achei que fosse coisa de brasileiro, no máximo do Ocidente, implicar com a mãe alheia. Pura inocência. No Japão, aquela ilhazinha minúscula com milhões de pessoas, eles desejam à sogra o que há de mais caro no país: um pedaço de terra só dela. Na China, uma imensidão de terra, eles não querem a sogra em um lote de 2X1, mas sim em um lindo pote de porcela no jardim no quintal. Em alguns países andinos há quem plante pés de coca na casa da sogra para ajudá-la a ter uma renda extra, mas o caso sempre termina mal porque a polícia invariavelmente recebe uma denúncia anônima. E por aí vai.

Mas há aquele colega do Vietnã. A Carolina do Norte é sede de um enorme grupo de refugiados políticos do Vietnã. E o meu amigo vietnamita, adjetivo pátrio não é meu forte, disse que amava a mãe da esposa. "Sim, sim, sim, pessoa maravilhosa, querida por todos". Eu achei estranhíssimo e insisti: "mas você gosta mesmo da sua sogra, ela é uma pessoa tão boa assim?". "É o que todo mundo diz, eu não a conheci, ela morreu antes de eu conhecer minha esposa". Assim, sim.

Beijos e saudades,

PS.: A Isa sugere que eu escreva que é tudo brincadeira. Tá escrito, viu, mô? Hoje é sexta-feira, eu tô de folga do mercado do Wal, a Marisa está em Washington e, vejam só, é primavera...

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Ninho vazio


Olá, pessoas!

Pois estamos sós em casa, eu e a Isa. E o gato, é claro. Há sempre o gato. Marisa partiu esta manhã, rumo à capital. Foi com toda a turma da escola, é a viagem de formatura da quinta série. O ano escolar está perto do fim, vai até 10 de junho. Voltam na sexta-feira à noite. Até lá eu e Isa somos os fiéis depositários do gato, que temos de alimentar, acarinhar e, vida dura, limpar a bosta e o mijo.

Minha intenção inicial era deixar só para a Isa a missão de cuidar do felino. Carinho e alimentação vá lá, mas cocô a gente só limpa o dos filhos e ninguém me diga que não tinha uma pontinha de asco. Consegui até os três dias de folga no Wal-Mart para embarcar como 'pai assistente' na field trip da Pequena. Ia pagar tudo sozinho (coisa raríssima para mim na terra-do-cachorro-quente-sem-molho, até o presente do Dia das Mães foi debitado na conta da Isa, ops, tomara que ela não leia...) com os pennies que conservo em um garrafão de vinho sobre a mesa. Ia ser moleza, ficar responsável por quatro meninos de 11 anos e de lambuja conhecer Washington ao lado da filhota. Um pequeno detalhe impediu a viagem: fui barrado.

Ter o acesso negado nunca é bom, mas ser barrado pela própria filha é novidade para mim. Já fui impedido de entrar em cinema, em festa e até na área reservada aos carros da Stockcar no autódromo de Brasília - tinha de conferir o boato de que um competidor estampava um anúncio não solicitado pela CEB, tudo bem, subi em uma laje e vi todos os carrinhos. Disse-me a Florzinha, em tom dompedriano, que precisa fazer algo sozinha para ganhar independência. Ela tem 11 anos!!!!!!!!!!! Onze anos e 39 dias para ser exato. Temo não estar pronto para ser pai de uma adolescente.

Beijos e saudades,

PS.: A mesma Marisete segue em 18 de junho para Salvador, Feira de Santana, João Pessoa, Brasília, Caldas Novas e o que aparecer até 12 de agosto, quando retorna para cá. Essa mocinha está independente até demais.