segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Lição número 1

Bom, chegamos eu e Marisa às 06h30 do sábado 16 de agosto.

O vôo SP-Miami foi complicado, um bebê duas fileiras à frente chorou boa parte do tempo. Se já era bastante difícil dormir na classe econômica, imagine com choro de criança... Esta é uma das coisas que cada um só aguenta a sua! Por falar em criança, a minha – que já está na segunda década de vida e mede quase uma fita métrica, achou por bem dormir o vôo inteiro sobre mim. Normal, como no caso do choro, quem pariu que embale.

Logo na alfândega uma pequena chateação. Temos, eu e a Florizinha, visto J2. É um visto que permite, por exemplo, trabalhar regularmente e decorre do J1, que é da Isa (a minha dependência aqui já começa no passaporte!!!). Difere do B2, aquele que usamos nas viagens de turismo. Achei que, por isso, deveríamos fazer o check-in na fila de ‘residentes’ e não na de ‘visitantes’. Pois estava errado e o camarada do guichê ficou bem putinho comigo. Disse que aqui não é o Brasil e que eu tenho de me acostumar com isso. Disse de novo, e mais uma vez. Me ofereci para ir à outra fila, mas o moçinho falou que agora ele ia me atender. Ao entregar os papéis, outro problema. A TAM, durante o vôo, deveria ter me dado três tipos de formulário para preencer, mas recebi apenas um. Como não sabia da necessidade dos outros dois, achei que estava tudo certo. Tive então de preencher nova papelada e voltar duas vezes ao mesmo cara, aquele do “aqui não é o Brasil”. Duvido muito que ele saiba aonde é o Brasil.

Aprovada a entrada no país – surpreendentemente não houve problemas com os cinco quilos de farinha que trouxe acondicionados em suspeitíssimos pacotes de papel pardo, fomos para o guichê da US Airwails. Tudo dentro da normalidade, nosso vôo para Charlotte, Carolina do Norte, seria às 08h50 e eram, quando dei bom dia ao atendente, 07h51. Pinnnn, reposta errada! A US mudou o vôo de horário, para 08h20, e o embarque já estava fechado.

Começou aqui uma novela que terminou com o embarque apenas às 19h24. Ou seja, chegamos 06h30 ao Aeroporto de Miami e de lá só saimos quase 13 horas depois. Não vou contar os capítulos entremeios, mas descrevo a cena: Marisa de mau humor (tadinha, completamente compreensível naquela situação) e eu conduzindo a ela e 12 bagagens de um lado a outro do aeroporto para tentar embarcar. Os aeroportos internacionais daqui são monstruosos, com diversas esteiras rolantes, pequenos trens e até metrô para circulação interna. Para fechar a cena, todo mundo meteu o pau na TAM, que me vendeu as passagens, e fui obrigado a concordar, porque as pessoinhas da TAM foram muito pouco prestativas. Bagagens: quatro malas, duas mochilas, duas bolsas, duas sacolas e dois bichos de pelúcia, uma ursa e uma preguiça. Aliás, a preguiça fez sucesso no aeroporto, todo mundo queria saber que animal era. Não sei como se diz bicho preguiça em inglês, quem souber favor avisar.

O melhor capítulo, porém, não foi o último. Era previsível que iríamos embarcar em algum momento. O bom mesmo foi que, numa das diversas idas e vindas aos guichês das companhias aéreas, o cidadão da US disse que estavam me procurando. Perguntei, feliz, se era para dizer que conseguiram um vôo para mim e minha filhota, mas ele explicou que era para devolver meu envelope com travelers cheques, que eu havia deixado sobre o balcão. Confesso que realmente fiquei surpreso, porque não tinha dado falta deles. Agradeci profundamente pelo cuidado de guardá-los e segui minha vidinha-de-morador-de-aeroporto-que-não-pregou-o-olho-a-noite-inteira. Só que, a 15 metros do guichê, fui abordado por um funcionário da US que de uma forma muito enfática, digamos assim, perguntou se eu não ia dar uma recompensa. Já puto da vida, questionei se era uma obrigação. Muito grosseiramente, ele disse que obrigação não, mas era o esperado quando alguém fazia algo bom por você. Na hora, lembrei da personagem de sete horas antes, na imigração: “você precisa saber que aqui não é o Brasil”.

Lição número 1: nos Estados Unidos tudo tem preço, até a honestidade.

4 comentários:

Unknown disse...

O que faz Márcio Peixoto do lado de cima da América? Posso imaginar:

O avental está bem amarrado na cintura. Uma toca evita que seus ralos cabelos avermelhados caiam sobre o fogão. Este que está em fogo alto, preparando alguma coisa para o almoço. Na mão esquerda, uma colher de pau ajuda a dourar a cebola na frigideira (se é que há cebolas por aí). Duas lambidas nos dedos para tirar o sal. Mais uma limpada rápida no pano de prato sobre o ombro para poder atender o celular. Era Isa:

- Querido, já estou chegando. Não tenho muito tempo. Espero que esteja tudo pronto quando chegar.
- Tudo bem querida, darei um jeito, respondeu Márcio em tom bastante meigo.
- Ah, tem mais uma coisa...

Enquanto Isa continua a falar, Márcio dá um jeito de firmar o celular entre o ombro e a orelha. Era preciso abaixar o fogo. A cebola já estava bem dourada. Mais do que devia até.

- ...aham, sei. Tudo Bem querida.
- ok...
- sim senhora.

Márcio desliga o telefone. Olha para o lado. A pia ainda está cheia de louças sujas do café da manhã. Era preciso lavá-las. E a mesa para servir o almoço? Cheia de papéis pertencentes à patroa. Era preciso arrumar tudo. Afinal, Isa avisara que chegaria em, no máximo, meia hora.

Márcio respira fundo e solta, em fluente inglês, um longo e alto:

- OH SHITED.

Márcio, aproveite o que de melhor te oferecerem por aí. Só te desejos coisas boas. Você merece. Continue mandando notícias.
Abraços para você, sua esposa e sua filhota.

Phillip Dântom

PS: Isa, sugiro que entre em contato com o pessoal do Visa o mais rápido possível. Eles estão atrás do Márcio. Até porque cartão de crédito nas mãos de “dono de casa” é sempre um perigo. Ainda mais se houver salão de beleza por perto. Pior: ele já descobriu uma papelaria, e disse ser gigantesca. Tome cuidado, vai sobrar para você.

Isinha disse...

O que vao pensar de mim?

Anônimo disse...

Márcio, eu morri de rir lendo isso!
Vem cá, você já aprendeu a cuidar da casa?hahahahahahaha
Desejo tudo de bom para você.

Escreva mais, é muito bom ler seus "contos".
Dê um beijo na Isa e na Marisa.
bjs

Musicas que marcam disse...

Sloth... nome pro bicho pregui