segunda-feira, 25 de maio de 2009

Feriado é dia de...



Hoje é feriado por aqui. Memorial Day. Dia de lembrar dos mortos em guerras, aqueles que "fizeram o sacrifício maior lutando pela nossa liberdade". Há também, em novembro, o Veterans Day, para aqueles que também brigaram pela "nossa liberdade" mas foram sortudos o suficiente para retornar fora do caixão.

Eu não entendia a necessidade de dois feriados para o mesmo tema até compreender que a intenção do Veterans Day é levantar o astral dos ex-combatentes. Sim, porque voltar vivo da guerra é quase um fracasso. O bom mesmo é morrer lutando pela "nossa liberdade". O sonho de todo veterano era ser comemorado no Memorial Day.

No mercado do Wal de vez em quanto me deparo com um veterano. Há dois tipos. Em um grupo estão as pessoas que geralmente se comunicam, perguntam alguma coisa e puxam papo. Normalmente estão bem vestidas e foram oficiais em alguma guerra - embora todos os veterenos que tenham me perguntado onde fica o cool whip tenham ido às vias de fato apenas com os vietnamitas. No outro grupo estão senhores quase maltrapilhos, sempre com barba por fazer, roupas por lavar e alguns adereços militares pendendo de jaquetas mais que surradas. Quase não falam e nas poucas vezes que me dirigem a palavra é para reclamar do preço. Quando percebem que sou estrangeiro, cortam o assunto e seguem adiante.

Os do primeiro grupo sempre perguntam de onde sou ou tentam advinhar - em geral chutam que sou francês ou alemão. Já fui taxado de francês três vezes e de alemão, duas. Dois deles até já estiveram no Brasil e amaram, mas ficaram assustados com a pobreza nas ruas. Ambos acompanham o Brasil de hoje e se disseram impressionado com as mudanças dos últimos 10 ou 15 anos. Um até falou 'a América precisa tomar cuidado com o Brasil'. Uma declaração de sentido duplo que, vinda de um veterano de guerra, me fez quase mijar nas calças. Vamos ser invadidos a qualquer hora.

De volta ao Memorial Day. O que fazer no feriado. Os cemitérios ficam lotados e em todos os túmulos de militares há bandeirinhas do país. Às 3 da tarde acontece um momento especial de lembrança, uma espécie de prece coletiva. Mas ir ao cemitério é apenas o plano C, na prática, como o feriado é sempre numa segunda-feira e estamos na primavera, vai todo mundo aproveitar o feriadão. Curtir o dia é o plano B.

O que realmente se faz no Memorial Day, o verdadeiro plano A, é, vejam só, compras. Sim, compras. Todos os meios de comunicação passaram a última semana bombardeando os possíveis compradores com as ofertas que vão acontecer exclusivamente neste feriado. Hoje você pode, por exemplo, comprar uma cama com 15 anos de garantia e fazer o primeiro pagamento apenas em 2011. E sem juros, viu?

A febre do consumo é tamanha que séries e mais séries de cupons são produzidos com validade exclusiva para o Memorial Day. A Isinha, claro, já tem o dela. Como já disse, os cupons te fazem escravo, você está obrigado a comprar. A Isa fez umas contas mirabolantes - eu não entendi porra nenhuma, mas ela jura que vai ser isso mesmo - e vai comprar produtos na Bath and Bady Works no valor de US$ 73, mas só vai pagar US$ 31,50 graças às promoções do dia e ao cupom do Memorial Day. Vai à loja com a lista em mãos. Vamos ter sabonetes para todos os usos e gostos, inclusive, acreditem, um específico para lavar pentelho - masculino e feminino.


Beijos e saudades,

imagem: www.soldiersperspective.us

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