domingo, 21 de fevereiro de 2010

A última de CDF

Olá, pessoas,

Ao diabo a greve. Enfrentarei-a heroicamente, eu e minhas mãos, que nesses assuntos sou ambidestro.

Parêntese. Antes de seguir tenho de admitir que me apavora a tal unificação da Língua Portuguesa. E se eu estiver escrevendo tudo errado? Ainda existe próclise, ênclise e mesóclise? E acento, como fica? O poeta de Feira – douto na língua de Camões e outros bichos, me mandou um arquivo com os detalhes das mudanças, certamente apavorado pelos impropérios que tenho cometido aqui. Mas eu ainda não tive coragem de abrir. Pode ser que aumente ainda mais o meu trauma escolar, que é exatamente, e de novo, meu tema hoje. Fecha.

Eu dizia que vou encarar a greve de peito aberto e mão fechada para voltar a falar do tema que a patroa-breadwinner-comandante-em-chefe-e-censora-nas-horas-vagas disse que não posso tratar. Sim, CDF. Ou melhor, o contrário: FDC, Fracasso Da Casa.

A essa altura já é público que meu irmão mais velho e minhas duas irmãs mais novas são geniais. CDFs de carteirinha, diploma de honra ao mérito e placa de homenagem. Um horror, tiram 10 até em educação física, ensino religioso e EMC, a temível Educação, Moral e Cívica. Sobre meu irmão ainda pesa outra vitória estrondosa: é um excelente goleiro, disputado aos tapas e promessas de “eu pago o chope, eu pago o chope” em todos os babas que participa, enquanto eu vivo na idade média do futebol: ainda não tenho certeza de que a bola seja redonda. Baba é a palavra baiana para pelada (deu para entender? Ah, o futebolês).

Mas eu perco o foco aqui, o trauma do futebol fica para outro dia, hoje só o escolar. Eu, sobre ele e elas, tenho apenas duas vantagens, tamanho e documento. Sou o mais alto da casa e os três se divorciaram, enquanto eu permaneço bravamente agarrado a uma certidão de casamento lavrada em 7 de janeiro de 1995. Ou terá sido no dia 5? Mas foi em janeiro de 95, com certeza.

Eu tenho o chamado recesso do lar, para onde volto alegremente após bater o cartão no fim do expediente. Eu ia dizer que abro a porta e dou de cara com uma esposa linda e cheirosa me esperando para o jantar. Mas esses foram outros tempos, aqueles em que se amarrava cachorro com linguiça, como diz Mainha, porque aqui quem faz a janta sou eu. E depois ainda lavo os pratos e varro a casa – desculpa ficar na frente da TV, querida, levanta os pés só um pouquinho; você tem de fazer isso agora? Traz outro martini pra mim, vê se não esquece a cereja de novo.

Já meus irmãos, vivem por aí como solteiros novamente, saindo com quem bem entendem e fazendo refeições e lavando a roupa na casa de dona Nilma e seu Fernando. Eu disse que tinha duas vantagens sobre eles, mas talvez tenha errado a conta.

Errar a conta é comigo mesmo. Tenho tido pesadelos sinistros por causa do zero em matemática. Não pelo zero em si, assunto que há anos é tema das minhas sessões, mas por ter exposto o fracasso escolar aos quatro ventos. Embora eu tenha plena certeza de que quase ninguém lê o blog, fico sonhando com isso. Na semana passada, sonhei, ou pesadelei, se me permitem, que voltava a Brasília e não conseguia emprego. Tinha passado uma lei exigindo teste de QI e histórico escolar para trabalhar como jornalista. Sabe como é, né, Marcio?, com esse seu histórico aí fica difícil para a gente te contratar, zero em matémática, 1,1 em redação, por mais que a gente goste de você, a gente desconhecia esse seu lado e realmente não dá. E lá ia eu, trabalhar no Wal-Mart. Ao menos agora eu entendia tudo que os clientes perguntavam.

Mas o pior me chegou nesta madrugada: sonhei que desembarcava de volta ao Brasil no Aeroporto de Brasília e tinha uma porrada de gente me esperando. Feliz e emocionado, corro de braços abertos, mas não eram meus amigos, e sim uma mega ação da Polícia Federal, que como também é público só acontece à luz de holofote. Eu era imediatamente preso, algemas, câmaras, tudo que se tem direito. Tinha eu a honra de ser o principal acusado da Operação Jumento. E eu dizia ao policial, deve ser engano, só pode ser, o meu é normal, padrão, nada demais, tamanho M e olhe lá, até me envergonha de vez em quando, a esposa pode confirmar, fale com ela... Só depois eu entendia que o jumento do título não era uma metáfora, e sim um sinônimo.

Beijos e saudades,

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