quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A neve...

Olá, pessoas.

Estamos em pleno inverno. A coisa tá tão feia que no fim de semana até painho me ligou – pela primeira vez desde que cá cheguei – para saber se estava tudo bem. Ele tinha visto na TV que a Carolina do Norte tinha decretado estado de emergência por causa da neve. Sim, seu Fernando, estamos todos bem por aqui.

Neve é que nem conhecer a pessoa mais bonita da festa e descobrir que a figura é oca: uma alegria enorme quando você é apresentado e outra, maior ainda, quando a gente consegue se livrar. A neve mesmo foi na sexta-feira passada, mas hoje é quinta e continua cheio de gelo por aí. Marisa e Isa passaram a semana quase toda em casa, aulas suspensas por causa do gelo nas pistas. Só hoje voltaram aos respectivos colégios, uma para ensinar, outra para aprender – ambas para me fazer inveja. O Wal-Mart abre sábado, domingo, madrugada, feriado e, claro, dia de neve. Só fecha mesmo no 25 de dezembro. Por enquanto, porque a cada ano abre até mais tarde na véspera. Antes, era até 18h00, neste último 24 de dezembro já foi até 20h00 e, não duvido, em breve vai abrir até no aniversário de Jesus.

A neve e o Wal têm uma relação especial. Qualquer ameaça de mau tempo, todo mundo corre para lá. A quinta e a sexta passadas foram dias enlouquecedores, o povo se matando por um galão de leite, uma dúzia de ovos ou um pacote de pão de forma. Dois dos três produtos mais vendidos nas vésperas de neve – leite e ovo – ficam no meu departamento, o que me garantiu muita diversão nestes dias nevosos, especialmente porque boa parte dos funcionários também deixa de trabalhar e quem vai tem de fazer as tarefas de três ou quatro pessoas. Eu fui todos os dias, derrapando o carro por 11 milhas até chegar lá. Não perderia por nada.

É nos dias de neve que acontecem os maiores inusitados do Wal. Nunca vi nada igual, no sábado não havia sequer um ovo, fatia de pão ou leite para contar a história daquelas horas de guerra. O corredor dos pães também era desolador, todas as prateleiras vazias. E que diabos esse povo tanto faz com pão, ovo e leite? A única resposta que me vem à cabeça é rabanada, que aqui eles chamam de french toast.

A situação é de batalha campal mesmo, com gente batendo boca pelo último produto. Eu fico sempre torcendo para o leite acabar quando eu esteja por lá para ver o fuzuê. A melhor de todas, desta vez, não foi por causada pelo leite, e sim pela cerveja, que fica estrategicamente armazenada em geladeiras em frente ao meu departamento.

Foi na sexta-feira. O leite estava saindo a olhos vistos, mas eu tinha estoque e repunha na velocidade que ter apenas dois braços permite. E vem vindo um casal, empurrando o carrinho. Eles estacionam o bug (gíria sulista para carrinho de mercado – não vá chamar o cart de bug se estiver em Washington ou Nova Iorque, é coisa de tabaréu, mas eu posso porque sou de Feira de Santana) em frente aos ovos, com o leite à direita e a cerveja à esquerda. Aquela parte de baixo do carrinho já estava lotada de pães. A esposa abre a grade do banquinho-onde-a-gente-põe-os-filhos-quando-eles-ainda-nos-obedecem e deposita cuidadosamente três caixas de uma dúzia e meia de ovos. Fui gentil e avisei: se a senhora vai levar esse tanto, é melhor comprar a caixa de cinco dúzias, que sai mais em conta. Ela agradeu, mas preferiu as três de dúzia e meia, porque caberiam perfeitamente no único espaço que ainda lhe restava no refrigerador, entre os leites que ela pretendia levar e a meia dúzia de cerveja que o marido compra toda semana.

A senhora se vira para os leites e, sem olhar para o carrinho, vai pondo os galões: um, dois, três, quatro, cinco. Do outro lado, o marido começa a pôr cerveja no mesmo carrinho. Só não foi a tradicional meia dúzia de toda semana. O cara vai pegando caixa de 24 latinhas. Uma caixa, duas caixas, três, quatro. Pensei, cada um com sua prioridade, mas que isso vai dar merda, vai. Daí a mulher percebe, porque foi colocar o sexto galão de leite ainda sem olhar para o bug, não havia espaço e os 3,6 litros acabam no chão. Leite para todo lado. No Wal, há um ditado: você viu, é seu. Ou seja, qualquer sujeira no chão tem de ser limpada pelo primeiro que a vê. É por isso que tem tanto funcionário que só anda olhando para o horizonte. Pode reparar na próxima vez que for a um supermercado, porque acho que a regra é universal. Ninguém olha para o chão.

Eu não tinha nem como fingir que não tinha visto, porque a essa altura até minhas meias estavam encharcadas. E eu também tinha outros interesses em ver a conclusão do caso: a senhora não se preocupe, que eu limpo tudo. E ainda joguei lenha (confesso que nessa hora me faltou um pouco da velha solidariedade masculina): pode continuar suas compras com seu marido. Limpar leite derramado eu faço todo dia, mas briga de marido e mulher é só em dia de neve.

A patroa olha para o carrinho, olha para o marido, olha para o carrinho, olha para ele de novo, mas agora com aquela cara de por-que-é-que-eu-casei-com-esse-imprestável-mesmo?, e dispara: ficou louco? Pra que esse tanto de cerveja? Não tem onde pôr! O cara nem se abala: com essa neve, se eu vou ficar trancando em casa com você, preciso de alguém que me entenda!

Beijos e saudades,

2 comentários:

Maria da Luz Delfino disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Maria da Luz Delfino disse...

Oi Márcio,
amei ver a neve. Que saudade desse clima frio! Jamais esquecerei o quanto festejamos a chegada da neve em 2007. Estávamos em Blowing Rock e quando retornávamos a Wilkes, chegando em Boone, começou a nevar. Todos - Marisa, Vinícius, Isa,e especialmente você fizeram a maior festa. Na hora do almoço ficamos tentando fotografar aquele floquinhos de neve que caiam lentamente sobre as plantas. Hoje vc tem muita fartura de neve. Dessa vez as fotos e o vídeo ficaram bem melhores!
Have a happy,snowy, and cold weekend!