terça-feira, 13 de abril de 2010

Sobre tíquetes e bancos


Olá, pessoas!

Está dado o passo definitivo para a volta: a compra das passagens. Estamos, eu e Isa, de tíquetes em mãos para 14 de junho, no novo vôo Atlanta-Brasília. Marisa fica por aqui mais um tempo, deve voltar em 12 de julho. Entre uma data e outra, a Pequena vai participar de um summer camper de teatro. Vão encenar Mogli, o Menino Lobo. Por aqui eles chamam de The Jungle Book, o que mostra que uma boa tradução pode melhorar o título.

Chegaremos no dia 15, justamente estréia do Brasil na Copa. Eu, que nunca dei muita bola para futebol (entendeu o trocadilho? Sinapses, sinapses...), nunca esperei uma partida com tanta ansiedade.

Por aqui estamos em pleno ritmo de volta, a casa começa a esvaziar, à medida que vendemos os móveis ou despachamos caixas e mais caixas com tudo que a Isa comprou na terra-do-você-sempre-pode-ter-mais. Acho que agora ela tem roupa para seis meses sem repetir uma peça. Fora as bolsas.

Na operação desmonte encontrei as provas do meu primeiro roubo, cometido em um banco aqui de Asheboro. Sim, já roubei um banco, aliás, várias vezes. Tá bom, antes de explicar tenho de confessar que não foi exatamente o primeiro roubo. Fazendo uso da absurda prescrição de crime existente no Brasil, vou revelar o ocorrido há mais de 20 anos.

Era final dos 70 ou início dos 80 e morava vovó Maria (essa é a Maria materna, porque a paterna também chamava Maria) num casarão na Avenida Senhor dos Passos, a principal de Feira de Santana naqueles idos. Quando alguém dizia que estava "indo para a rua", queria dizer que ia à Senhor dos Passos ou vizinhanças. A tal casa ficava sobre uma loja na qual décadas antes meu avô tinha uma sapataria. Do outro lado da rua esse mesmo meu avó foi assassinado a tiros, bem diante dos olhares de mainha e de um dos meus tios, que esperavam a chegada do pai da sacada. Não conheci o vovô e até hoje não sei o porquê de o mataram, mas hoje ele é nome de rua lá em Feira.

Sim, ao crime, porque se for contar a história da família ou as consequências do assassinato o espaço acaba. Domingo íamos sempre almoçar na casa de vovó Maria. Semana na casa da paterna, semana na casa da materna, mas sempre vovó Maria. Aliás, a escolha da vovó Maria a visitar era tema de brigas constantes. Minhas recordações de Natal incluem meu pai de cara amarrada porque estava ou tinha de ir à casa da outra Maria. E olha que se tem alguém sem o direito de reclamar de sogra é seu Fernando.

A sapataria, sem o vovô, faliu e vovó Maria passou a alugar o espaço. Não sei se antes de mim outra coisa operou naquele lugar, mas desde que me conheço por gente funciona lá a bomboniere da dona Odete. O nome deve ser outro, mas é definitivamente uma bomboniere e a dona é a dona Odete. E esses almoços eram do tempo em que domingo era domingo, com missa, lojas fechadas, famílias reunidas e tudo mais.

Vovó Maria sempre fazia pratos que só de pensar me enchem a boca d'àgua - como a macarronada, o frango assado ou o fígado ao molho (sim, fígado pode ser delicioso), seguidos de um pudim que nunca encontrei igual em qualquer lugar. Mas a sobremesa da molecada era mesmo no depósito da dona Odete. Como antes a loja era da família, havia no quintal uma porta de acesso ao estoque da então sapataria. Sem muito esforço a gente arrombava a porta e fazia a festa. Pronto, depois da confissão só me restam dois pai-nossos e cinco ave-marias para ser perdoado.

De volta ao banco. Há aí nesta foto umas dúzias de canetas e lápis. Não mais do que cinco ou seis foram compradas. As outras foram apenas surgindo, a maioria trazida pela Isa como brindes de atividades docentes. Eu dei alguma contribuição.

Recebo o pagamento do mercado do Wal quinzenalmente e vou direto ao drive-thru do banco depositá-lo na conta da Isinha. Mas não é o suficiente - o Wal-Mart é um histórico e famoso mau pagador, ela ainda exige que eu lave as roupas, o banheiro e a louça. O divertido do banco de dentro do carro é que para mandar e receber papéis a gente usa essas cápsulas de acrílico em um tunel de ar comprimido. Me divirto profundamente cronometrando o tempo de ida e vinda da cápsula.

E a moça do caixa sempre me mandava o casulo de volta com uma caneta dentro. Oba, brinde, bolígrafo no bolso. E foi assim por vários meses, até que uma dia a jovem me interfonou, e da janelinha eu vi o sorriso delicado no rosto da bancária:

- Seu Marico (aqui todo mundo me chama de Marico, eles simplesmente não conseguem pronunciar meu nome), o senhor poderia fazer a gentileza de, desta vez, não levar a caneta do banco?

Beijos e saudades,

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