quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

O Inferno de Disney


Olá, pessoas!

Nunca li a Divina Comédia. E é bem provável que jamais a leia, já que (1) não sou lá fã de poemas em geral e dos épicos em específico e (2), infelizmente, já me faltam zilhões de horas nesta vidinha para ler o que realmente me dá prazer (ou daria, posto que basta ir a uma livraria, biblioteca ou simplesmente percorrer minhas estantes para dar de cara com mais coisa que gostaria de ler e sei que não vou ter tempo). Mesmo assim, a viagem de férias me fez mudar a imagem que tinha da obra.

Antes, quando eu pensava no inferno de Dante (se é que eu pensava nisso), me vinham as ilustrações de Dalí ou mesmo o quadro do Botticelli, mas agora alcancei o que os norte-americanos gostam de chamar de “big picture”, deixei de lado a visão parcial e descobri a alma do negócio. O inferno na terra, descrito por Dante num livro que não li e nem pretendo, está materializado: Walt Disney World.

A desconfiança de que aquilo lá era uma loucura veio da primeira vez que por lá passei, no Natal de 2007, com a Isa e a Florzinha. As filas eram monstruosas e os caras achando tudo bom, porque nas férias de verão, especialmente em julho, haveria muito mais gente. Pior do que aquilo? As filas são tão grandes que eles criaram níveis. Você tá lá olhando uma porta com 200 pessoas na sua frente, mas tá pertinho, oba! Passou pela porta? Parabéns, você acaba de entrar no próximo nível da fila. Mudam a decoração, o ambiente agora é fechado e climatizado, mas é apenas mais do mesmo: uma boa e velha fila. Há brinquedos em que há quatro níveis de fila, e toda vez eu achava que tinha chegado nossa hora, mas após cruzar o maldito portão dava de cara com outras 400 pessoas em um novo ambiente. Quem teve a chance de ir ao matadouro lá em Feira de Santana não consegue evitar a associação e se sentir como uma vaquinha na fila do abate.

Eles colocam no fim das filas umas plaquinhas interessantes informando o tempo de espera. Em 2007, a menor demora que vi foi de 30 minutos e a maior, de 210. É isso mesmo, três horas e meia na fila para passar 90 segundos em uma montanha russa. E ainda correr o risco de um gringo vomitar em você ou ficar ouvindo brasileiro falando besteira achando que ele é o único a entender português. Aliás, essa é outra característica da Flórida, brasileiro dá em árvore. Você pode passar dias sem ter de gastar o inglês, porque nas lojas e restaurantes há conterrâneos trabalhando. Alguns. A maioria está mesmo comprando, (muito, nunca vi brasileiro sem sacolas cheias. Cadê a tal da crise? Não chegou por aí não?). E nos brinquedos da Disney também relaxe, porque nas principais atrações há instruções em áudio e texto em português. Fora os monitores. Segundo uma paraibana que conhecemos lá, 900 jovens brasileiros estão em intercâmbio de trabalho na Disney neste fim-de-2009-início-de-2010. Estudam inglês por um período, trabalham no outro. O trabalho deveria ajudar a desenvolver a comunicabilidade no segundo idioma, mas é inútil. Os funcionários do Walt usam um crachá com o nome na primeira linha e a origem, na segunda. Então, monitor brasileiro só fala mesmo a língua de Camões.

Chega de informação, que isso já tá com cara de reportagem mal apurada. De volta ao inferno. A Disney de 2007 foi cansativa, mas como era a primeira vez tinha o gostinho do novo, então, até fila era festa. E a gente ainda levou a Marisa sem que ela soubesse, então, ganhamos um momento Mastercard quando a gente deu o ingresso à Pequena. Mas agora estivemos de novo lá e em um grupo bem maior. Nove pessoas. E a idéia da Disney foi minha! Meus irmãos estavam vindo nos visitar e sugeri que a gente se encontrasse em Miami e subisse de carro para a Carolina do Norte, fazendo um roteiro turístico pelo caminho. Tenho a impressão de que conhecer a Disney faz parte do inconsciente de boa parte da classe média brasileira. Acho que estava certo, porque minha irmã quase chorou porque não conseguia tirar uma foto com o Mickey. No fim, acabou passando duas horas numa fila e bateu o tal retrato com o rato. Pegou o autógrafo também. Beliscou a bunda e deixou o telefone, mas o Mickey ainda não ligou.

O duro é que tenho plena certeza de que ainda terei de voltar à Disney. Não tenho qualquer plano para isso, mas me parece claro que vou retornar ao inferno com sobrinhos/sobrinhas ou até mesmo com os herdeiros da Florzinha. Quando isso acontecer vou usar na imigração as palavras proibidas no linguajar aeroportuário e fazer o grupo ser deportado a São Paulo. Assim, a gente vai ao Parque da Mônica (corre, que vai ser despejado do Shopping Eldorado), ao Hopi Hari e ao Playcenter. E ainda ganha de brinde o Masp, a Pinacoteca, o Ibirapuera, as Culturas do Conjunto Nacional e o fantástico Museu da Língua Portuguesa. Nas filas tupiniquins ao menos, espero, os brasileiros não tratam a pátria como uma porcaria ou falam do Tio Sam como o melhor lugar do mundo, enquanto estão apenas como turistas na caríssima Disneylândia.

Beijos e saudades,

2 comentários:

Luciana Peixoto disse...

Nao existe descricao melhor da Disney. Claro que como estamos a passeio e bem acompanhados (neste caso com uma parte da familia que amo!!!!) tudo passa batido e curtimos. Existe uma outra explicacao para Disney: encontro da familia. Vejam so, quantas vezes vc ficou duas horas no mesmo espaco com seus irmaos sem ter o que fazer, apenas conversar??? Certeza que nunca. Assim sendo, o momento em que estamos na fila e terapeutico!!!!!Terapia de Familia!!!

Luciana Peixoto disse...

Nao existe descricao melhor da Disney. Claro que como estamos a passeio e bem acompanhados (neste caso com uma parte da familia que amo!!!!) tudo passa batido e curtimos. Existe uma outra explicacao para Disney: encontro da familia. Vejam so, quantas vezes vc ficou duas horas no mesmo espaco com seus irmaos sem ter o que fazer, apenas conversar??? Certeza que nunca. Assim sendo, o momento em que estamos na fila e terapeutico!!!!!Terapia de Familia!!!