segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O dente vai bem, mas o bolso...


Acabo de ir ao dentista.

Foi, na verdade, a segunda vez. Há cerca de dois meses estive lá para fazer uma limpeza. E fui sozinho. Eu e meu inglês. Até que sobrevivemos bem, conseguimos dizer não a todos os tratamentos revolucionários que nos ofereceram e me ative, com o inglês ao meu lado, de boca aberta e bolso vazio, exatamente à limpeza, que era gratuita, conforme reza o contrado do seguro dentário que a Isa me deu de presente. E ainda ganhei uma escova elétrica, uma pasta de dentes, ou dentifrício, como diria Nelson Rodrigues, e um fio dental revolucionário, que não solta tiras, não tem cheiro e nem deforma. Você usa e ele fica do mesmo jeitinho. Vi o preço no mercado do Wal. Precisaria trabalhar duas horas e 14 minutos para pagar um rolo de 20 metros. Passei a usar o mesmo pedaço no almoço e no jantar. Mas guardo numa caixinha esterilizada, que higiene vem em primeiro lugar.

E foi esta primeira ida ao dentista que me abriu os olhos para a banguela dos norte-americanos. Um colega do Wal tinha pedido para que eu o substituísse e respondi que não poderia porque, na manhã em questão, tinha consulta no dentista. A pergunta dele me intrigou: "e você tem dinheiro para ir ao dentista?". Eu fiquei sem graça e pensei em dizer que meu irmão era dentista, mas depois lembrei que o dr. Téo está a mais de 10 mil quilômetros de distância e não colaria. Daí, mais constrangido ainda, eu confessei: eu vivo às custas da minha mulher, é ela que paga as contas e ainda me deu um seguro dentário de presente. Nem de rufião particular posso ser acusado, porque em troca a ela basta escrever no blog. É por isso que postei sexta-feira e hoje, tenho de mostrar serviço em casa, tenho de chegar junto, comparecer.

Ela tem dinheiro, eu não. Mas tenho dentes, e um deles começou a me incomodar. Sabe aquela dor que não é dor? Só um leve incômodo. Vez ou outra, quando mastigo, ele dá sinal de vida. Começou há umas quatro semanas, depois passou, voltou, passou e voltou de novo. E eu quito, bico fechado. É que seguro dentário reduz a conta, mas você ainda paga. Depois pensei, quando mais tempo passa, pode ficar pior e mais caro. Confessei a quase-dor e a Isa marcou a consulta.

A clínica é ultra moderna, parece consultório espacial, cheio de equipamentos, computadores, telas. Tudo do bom e do melhor para torturas coletivas e a minha em particular. Foi quando já estava na cadeira com babador e tudo que me veio o dilema: e se doer? Ter irmão dentista é essencial nestas horas, sempre abri a boca sem medo, agora estou aqui de boca aberta para um gringo. Uma gringa, na verdade. É que o dentista em si é uma espécie de Deus e há o risco de você sequer ser atendido por ele durante a consulta ou mesmo tratamento. A limpeza de há dois meses, por exemplo, foi toda feita por uma das moças. São cinco consultórios na clínica e apenas um dentista. As moças fazem tudo, tudo mesmo, até pôr o amálgama. Ele desce do trono, dá um OK e volta para uma salinha secreta. Ninguém sabe o que acontece na sala do dentista.

Pois sim, para resumir: meu dente está bem, o próprio dentista conferiu, depois da mocinha, e disse que nada há. Não foi preciso broca ou qualquer outro aparelho ultra-pós-moderno. Aliás, a mocinha bateu um raio-X, mas nem precisou revelar, porque agora a imagem aparece direto na dela do computador. A Kodak vai falir. E a garantia de que nada há me custou (ou à Isa) 30 dólares. E isso com o seguro. Sem o seguro? Separe 97 verdinhas, ou quase 200 reais. Um amigo nosso teve de fazer um canal. Quatro mil dólares! Mas ele tinha seguro (não sei se a Isa deu para ele também) e pagou apenas 800. Desconheço o preço de um canal no Brasil - ter irmão dentista tem diversas vantagens, mas dúvido que chege aos cerca de oito mil reais daqui.

Se eu tiver que fazer um canal na terra-do-dentista-fantasma, sai mais em conta comprar passagem e ir ao consultório do dr. Téo. Agora eu entendo não só porque meu Wal-friend perguntou se eu tinha dinheiro para ir ao dentista como também porque há tanto gringo sem dente por estas bandas da verdadeira América.

Beijos e saudades,

Imagem: www.blogdaries.blogspot.com

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